Os hospitais tiveram de adaptar-se para fazer frente à covid-19. Em Matosinhos, uma nova unidade duplicou a capacidade para acolher doentes críticos.
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Com o inimigo pandémico a atacar de dia para dia, os hospitais cerraram fileiras e traçaram estratégias de combate. A batalha começou há mais de um ano, e, para se armarem para a luta, as unidades de saúde uniram esforços, adaptaram espaços, muniram-se de mais meios humanos, reinventaram-se ou construíram novas unidades em tempo recorde, como fez o Hospital Pedro Hispano, em Matosinhos. E do pouco fizeram muito.
É Rui Araújo, o médico que dirige o Serviço de Medicina Intensiva (SMI), quem nos guia pela redobrada Unidade de Cuidados Intensivos (UCI) de Matosinhos. Um corredor liga a área antiga à nova, "um braço" com 11 quartos de pressão negativa, que há um ano se estendeu a partir dos gabinetes e que tem sido precioso na resposta aos casos mais críticos de covid-19. São espaços contíguos, mas realidades distintas: a velha UCI não é grande, e só tem dois quartos de pressão variável. De resto, é um espaço aberto, com oito camas.
Branquíssima, a nova ala é um dos milagres - o mais visível - operados no Pedro Hispano, logo na primeira vaga, graças "à bondade e superação de muitas entidades e pessoas que trabalharam dia e noite", como reconhece o intensivista, que lembra que "fazer uma Unidade de Cuidados Intensivos é uma coisa de extraordinária complexidade".
Soaram os alarmes
Foi "uma solução revolucionária", gizada em poucos dias, quando o SMI percebeu que estar "acima do máximo" não seria suficiente, e que eram "precisas mais camas" além que já tinham sido abertas para covid na UCI. "Ativamos mais duas camas e ficamos com 10. Porque o tsunami vinha aí", recorda Rui Araújo, que reuniu com a equipa "no início de fevereiro, para iniciar o processo de preparação". Estávamos em 2020, e o caos vivido noutros países fez soar os alarmes.
"É melhor preparar para o pior e desejar o melhor", acredita o médico, que fala sempre no plural, em nome do grupo de trabalho. O lema guiou os passos de todos os profissionais do serviço, que transformaram o "medo sempre presente" em "fator de mobilização individual e coletiva". O primeiro passo foi o aumento de camas e de recursos humanos. "Duplicámos a equipa", conta Rui Araújo. A UCI ficou inteiramente dedicada à covid, isolada, e abriram-se outras 10 camas de cuidados intensivos não covid no recobro da Cirurgia de Ambulatório.
Com o vírus a ganhar terreno e o SMI mais perto de "chegar ao limite", o hospital deu o outro passo. "Numa semana, assumimos objetivos novos: era preciso um novo espaço". Rui Araújo relembra que "o ponto de partida era dramático, e tinha de ser feito em tempo recorde". Começava uma maratona e "uma mobilização do hospital e de vários parceiros" que comoveu o médico e permitiu "ultrapassar dificuldades".
Oferecido por um gabinete de arquitetura do Porto, o projeto da nova UCI ficou pronto numa semana. E a obra fez-se em 20 dias. Os quartos individuais envidraçados e com videovigilância para monitorizar os doentes, através de um grande ecrã, têm antecâmaras e pressão negativa, o que permite eliminar partículas do ar. "É muito mais seguro para doentes e profissionais, e vai continuar a ter utilidade após a pandemia, para outras doenças infeciosas", aponta a médica intensivista Marta Pereira.
Outros hospitais
Hospital S. João, no Porto
Está a ser implementada a modernização do Serviço de Medicina Intensiva que prevê mais oito camas e a construção de mais 10 quartos de isolamento, bem como o reequipamento de camas. Para Urgência e Medicina Intensiva foram contratados sete médicos, 66 enfermeiros e 27 assistentes operacionais, que globalmente se irão manter. A Urgência foi ampliada, com a construção de uma área com 500 m2, e fez-se aquisição de equipamentos.
Hospital Sta. Maria, em Lisboa
Além da adaptação de três unidades de Cuidados Intensivos existentes, foram criadas cinco em áreas de internamento e bloco operatório. Fez-se a reconversão de 14 serviços para internamento covid. Readaptaram-se outros espaços e instalaram-se contentores para aumentar a capacidade. Foram realocados meios humanos, mas o número absoluto não se alterou. Compraram-se cerca de mil equipamentos.
Hospital Sto. António, no Porto
Converteu algumas áreas em unidades covid, que na maioria já retomaram as funções de origem, e construiu um pavilhão no jardim interior para compensar o internamento de Medicina Interna "não covid", o qual se mantém, tal como uma enfermaria de Medicina Interna e uma pequena Unidade de Cuidados Intensivos dedicadas à covid e outra UCI de reserva. Foram contratados seis médicos, dezenas de enfermeiros, técnicos e assistentes operacionais, mas algumas contratações dependem de autorização.
Com obras em curso, o hospital de Gaia acelerou algumas intervenções e readaptou os novos espaços, como uma enfermaria e parte da Urgência, para o combate à pandemia. As funções originais já foram repostas. A Unidade de Cuidados Intensivos, prevista para a Fase C, foi concluída em 90 dias e abriu em dezembro. Houve um aumento de 400 profissionais e foi adquirido equipamento.
260 doentes
Já receberam tratamento na nova UCI, inaugurada no início de maio último. O hospital criou ainda unidades de internamento covid e acesso específico para estes doentes na Urgência e deslocou a Pediatria para um espaço com acesso pelo exterior.
1 milhão de euros
A nova UCI do Hospital Pedro Hispano custou perto de um milhão de euros. O investimento foi suportado por vários mecenas, incluindo a Câmara de Matosinhos.