Restaurante em Odivelas vandalizado com símbolos russos. "Só dão mais motivação", reagem ucranianos
Foi na noite da passada terça-feira que o restaurante de Mykola e Svitlana Melnychenko, em Odivelas, foi grafitado com símbolos russos. Apesar desta ter sido a primeira vez que um “ataque” se aproximou tanto, o casal ucraniano já tinha recebido telefonemas intimidantes. Mas não deixa que o medo guie a sua vida.
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No fim de janeiro, no Grand Prix de Portugal de judo, Mykola Melnychenko manifestou-se contra a participação dos atletas russos no torneio. Acusou-os de serem terroristas e acabou por ser expulso do Pavilhão Multiusos de Odivelas onde decorria o campeonato. Durante esta noite, o seu restaurante “Casa ucraniana”, na Pontinha, em Odivelas, foi “vandalizado” com grafiti da letra “Z”, símbolo associado à agressão militar russa contra a Ucrânia.
Esta quarta-feira dirigiram-se à polícia para apresentar queixa, mas foram logo avisados de que o caso iria ser provavelmente arquivado, uma vez que ninguém viu nada. Svitlana Melnychenko, também proprietária do estabelecimento e mulher de Mykola, contou ao JN não estar com medo.
“Não tenho medo, mas é um desconforto. A nossa preocupação e receio é para com os nossos (cinco) filhos, que se deslocam sozinhos na rua”, confessou. Para além de ambos considerarem os desenhos a tinta vermelha na fachada do restaurante uma ameaça, Svitlana confessou já ter recebido chamadas para o número dela, associado ao restaurante, de teor mais intimidante.
Nessas chamadas, perguntaram-lhe se não temia por si e pelo marido, mas Svitlana não se deixou abalar. “Só me dá mais motivação para continuar (com o ativismo)”, admitiu ao JN. Ainda assim, admitiu que não esperava que situações como esta acontecessem na Europa.
Mas Pavlo Sandokha, porta-voz da Associação dos Ucranianos em Portugal, veio confirmar ao Jornal de Notícias que situações destas são cada vez mais frequentes.
Ainda que não tenha sido noticiado, recorda que “no mês passado foi vandalizado um busto de um poeta ucraniano, na Praça de Itália, no Rossio”. Indicou ainda que os desenhos feitos eram idênticos do restaurante.
Pavlo Sandokha não tem um número de queixas apresentadas às autoridades para revelar, mas disse ao JN que já foi alvo de ameaças de morte, concretizadas numa chamada telefónica, e que, após apresentar queixa, o processo vai avançar para julgamento, ainda sem data marcada.