Alterações climáticas levam Universidade de Aveiro a prever que terrenos junto das rias de Aveiro e Formosa e dos estuários do Mondego, Tejo e Sado poderão desaparecer em 25 anos.
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As áreas afetadas pelo efeito combinado das marés vivas, tempestades e a subida do nível médio do mar nas rias de Aveiro e Formosa e dos estuários do Mondego, do Tejo e do Sado poderão aumentar dezenas e mais de uma centena de quilómetros quadrados, daqui a pouco mais de 25 anos, em consequência das alterações climáticas.
Segundo um estudo da Universidade de Aveiro (UA), o estuário do Tejo apresenta a maior extensão inundável. No horizonte de médio prazo (2046-2065), poderá chegar aos 390 quilómetros quadrados, contra os 320 atuais, nos eventos com períodos de retorno de dois anos, e aos 435 Km2, nos esperados com intervalos de cem anos. No cenário para 2081-2100, prevê-se que atinja os 473 Km2.
O pequeno estuário do Mondego, pode passar de apenas 8,6 Km2 para 37,4 Km2 (+34,9%) no cenário mais próximo, no caso das tempestades com período de retorno de dois anos, e em 586% (+50,4 Km2) até 2100, com fenómenos meteorológicos extremos que podem ocorrer uma vez em cada cem anos. O Sado pode "alargar" 132 Km2 com eventos a dois anos .
Ocorrências aceleram
Em artigo na revista "Scientific Reports" (grupo "Nature"), investigadores do Centro de Estudos Marinhos e do Ambiente (CESAM) do Departamento de Física da UA sublinham aumentos expressivos das áreas inundáveis entre os cenários de médio e longo prazo, estimados em 45 Km2 no caso do Tejo já daqui a pouco mais de 25 anos.
A equipa, coordenada pelo físico João Miguel Dias, do Núcleo de Modelação Estuarina e Costeira, adverte que a extensão das inundações com uma recorrência de cem anos no horizonte 2046-2065 se aproxima da prevista para os eventos com períodos de retorno de dois anos no prazo 2081-2100.
"Quer dizer que as inundações costeiras esperadas a cada cem anos em 2046-2065 podem ocorrer a cada dois anos próximo do final do século". Mais de 35 mil pessoas poderão ser afetadas [ler "Impactos"].
Caso a caso
Assustador, o estudo é mais prudente do que outros sobre os impactos da subida do nível médio do mar, que chegaram a dar a Praça do Comércio, em Lisboa, Algés e Vila Franca de Xira debaixo de água, a marginal da Figueira da Foz alagada, Aveiro, Tróia e todo o litoral algarvio submersos, como assinala uma nota da UA.
Esses trabalhos "aplicam a previsão da subida do nível médio do mar em 79 centímetros, concluindo que a subida é linear quando devemos ter em conta que isso não acontece assim e que há obras e medidas de proteção, como diques, comportas, margens e caminhos alteados que servem de barreiras", explicou ao JN o coordenador da equipa. Por outro lado, trabalham cenários como se a água subisse e não descesse.
Na investigação do CESAM, foram utilizados modelos numéricos hidrodinâmicos de elevada resolução para cada um dos estuários e não um modelo genérico para todos, salientou João Miguel Dias. Tiveram assim em conta os fatores físicos, a geometria da entrada do estuário, o atrito, as barreiras e dados cartográficos e topográficos das zonas estudadas, além de trabalhos sobre a dissipação da energia da onda de inundação.