Ribeira de Pena é um dos seis concelhos do país na lista de maior risco de contágio. Se tiver de fechar, arrasta mais 100 mil pessoas das redondezas.
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O pequeno-almoço no Café de Baixo, em Ribeira de Pena, é comido no passeio. Não tem torrada nem meia de leite. É um prego no pão e, para os mais afoitos, um copo de vinho branco. O confinamento geral suspendeu a tradição, que foi retomada há duas semanas com a primeira fase do desconfinamento. "Esperamos que a situação não volte a complicar-se, que é para os clientes poderem voltar a comer cá dentro", diz o gerente, Gabriel Carvalho.
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Mas o cenário pode piorar. Ribeira de Pena é um dos seis concelhos do país cuja incidência de infeção pelo novo coronavírus ultrapassa os 240 novos casos por 100 mil habitantes nos últimos 14 dias. Os outros são Carregal do Sal, Moura, Odemira, Portimão e Rio Maior.
Há mais 13 concelhos que, embora em situação menos má, também têm uma incidência superior ao limiar de risco definido pelo Governo (mais de 120 casos por 100 mil habitantes): Alandroal, Albufeira, Beja, Borba, Cinfães, Figueira da Foz, Figueiró dos Vinhos, Lagoa, Marinha Grande, Penela, Soure, Vila do Bispo e Vimioso.
Se todos eles não melhorarem nas próximas duas semanas, a terceira fase do desconfinamento será travada e ainda arrastarão consigo 64 concelhos vizinhos. No caso de Ribeira de Pena, seriam afetados Boticas, Vila Pouca de Aguiar, Vila Real, Mondim de Basto e Cabeceiras de Basto. Quase 100 mil pessoas.
"Precisamos de reabrir"
"Não podemos chegar a esse ponto. É preciso ter cuidado. Não é por se estar a desconfinar que se pode fazer tudo", avisa Aurélio Martins, um dos habituais do prego no pão no Café de Baixo, mas farto de o comer na rua. "Mesmo assim melhor que há 15 dias, que estava tudo fechado", atira Albino Jorge, também ele adepto do bife de vitela no meio de um molete.
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"O segredo da qualidade é o tacho, que é mágico", torna Gabriel Carvalho. Mas sozinho não paga as contas. "Precisamos de reabrir e trabalhar como antes. Se tivéssemos de voltar a confinar ficaria muito complicado, pois vender só ao postigo não é rentável".
Carla Costa, proprietária da padaria Confiança, pensa da mesma forma. Vai dando confiança aos clientes, "cumprindo as normas e lutando para que as coisas não piorem. Pão vende-se sempre, porém, "se pararem o desconfinamento vai ser mau para o negócio", já que "vender café ao postigo não é a mesma coisa".
O presidente da Câmara Municipal de Ribeira de Pena diz que os casos no concelho são "residuais". Ainda espera os resultados da semana que terminou ontem, mas refere que na anterior só havia "13 casos de covid-19, nove deles trabalhadores peruanos envolvidos nas obras de construção da barragem de Daivões e uma família de quatro pessoas devidamente identificadas". Ontem, havia "oito casos ativos". "Temos de estar atentos, mas não preocupados", sublinha.