O presidente da Câmara do Porto admitiu, esta sexta-feira, recear o "fim da democracia" e exortou a sociedade a assumir as rédeas do país e não deixar soluções mágicas nas mãos de uma pessoa.
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"Já sei que alguém vai dizer: o Rui Moreira está a dizer que a democracia vai acabar ou quer que ela acabe". Não, é o contrário. Temo é que ela acabe. Porque ela acabou precisamente assim, quando os cidadãos deixaram de acreditar que ela era capaz de resolver os seus problemas. E, depois, um dia, surgem os eleitos, que não foram eleitos por nós, mas que foram eleitos num "olimpo" qualquer e nos vão trazer uma solução. E, de repente, os cidadãos, depois de esperarem que a democracia resolvesse os seus problemas, esperarão que seja o autoescolhido - que acha que é diferente, que diz mal da Justiça, dos jornalistas, que diz mal de tudo. Mas diz: eu tenho a solução mágica. Não queria que essa a solução mágica fosse de uma pessoa. Queria que a solução mágica fosse nossa", pediu Rui Moreira.
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Foi com um discurso altamente irónico que o presidente da Câmara do Porto fez na Grande Conferência do JN desta sexta-feira, procurando olhar-se a si e ao país ao espelho e, criticando uma sociedade em que praticamente não está satisfeita com nada e parece recordar os tempos do "colonialismo", em que quer as coisas mas prefere que sejam os outros a fazer essas coisas.
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"Não queremos explorar petróleo no Algarve, centrais em Sines, barragens, parece-me também óbvio que não queremos extrair lítio, não queremos eucaliptos mas também não queremos oliveiras no Alentejo, aeroportos novos, carros nas cidades, turistas", ironizou Rui Moreira.
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Mas o autarca portuense foi mais longe numa espécie de sátira ao Portugal atual. "Quando nada temos para dizer glorificamos o mar. Toda a gente sabe que um político quando não tem nada para dizer fala do mar", aponta, criticado o vazio da recente campanha eleitoral para o Parlamento Europeu em termos de análise da situação do país e os rumos a tomar e a constante alusão à abstenção. "Foi útil na voz daqueles que reclamam que a vitória foi da abstenção, porque não quiseram reconhecer o seu fracasso", disse.
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Para Rui Moreira, esta sociedade que nada quer produzir mas tudo quer consumir, deixou de acreditar nos políticos. Por isso, receia que a democracia esteja em risco, porque teme que as pessoas se identifiquem com "soluções milagrosas" de uma única pessoa. "Temo que a democracia acabe. Ela acaba porque os cidadãos deixaram de acreditar que a democracia era capaz de resolver os seus problemas. Não quero que a solução mágica seja de uma pessoa. Quero que a solução mágica seja nossa", concluiu o autarca.