Desde o fim de agosto de 2021, refugiaram-se em território nacional pelo menos 908 afegãos.
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Desde que, no final de agosto de 2021, os militares dos Estados Unidos da América saíram do Afeganistão e os talibãs subiram ao poder, mudaram-se para Portugal pelo menos 908 afegãos, 140 dos quais retirados do país após o "golpe de Estado".
Os dados constam do Relatório Anual de Segurança Interna de 2022, conhecido esta semana, e mostram ainda que a nacionalidade afegã é a mais representativa entre os beneficiários de proteção internacional, com 287 situações. O fluxo recente não é, ainda assim, considerado significativo por quem está no terreno.
"Não há um número de refugiados afegãos tão grande quanto isso. Não tem sido fácil a chegada", sublinha, ao JN, o diretor-geral do Serviço Jesuíta aos Refugiados em Portugal, André Costa Jorge, lembrando que, só da Ucrânia, chegaram quase 60 mil pessoas desde que, em fevereiro de 2022, o país foi invadido pela Rússia.
Ao contrário de afegãos e de cidadãos de outros países, quem foge da guerra no Leste da Europa tem beneficiado de proteção temporária, mas, na altura de promover a sua integração, a nacionalidade "não altera em nada a estrutura do programa de acolhimento", montado em articulação como Alto Comissariado para as Migrações.
Segundo André Costa Jorge, os refugiados começam por ser acolhidos em estruturas de emergência, onde é feito um diagnóstico mais aprofundado das suas necessidades. Em seguida, são acompanhados durante 18 meses e, caso seja identificada "uma maior vulnerabilidade" - como necessidade de apoio psicológico -, é prestada ajuda específica.
O objetivo é que consigam ser autónomos no país.
Teme que surja "anátema"
Atualmente, o Serviço Jesuíta aos Refugiados "acompanha quase duas centenas de afegãos", desconhecendo o caso particular do homicida do Centro Ismaili.
Além de lamentar o "ato criminoso", o diretor-geral da organização teme que o sucedido "possa de alguma forma lançar um anátema" sobre os refugiados afegãos - na sua maioria jovens e "músicos" - e "alimentar um discurso de extrema-direita e de xenofobia".
Ontem, o líder do Chega, André Ventura, anunciou que vai propor que haja um debate no Parlamento sobre política de imigração. Pouco depois, o presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, apelou a que não se generalize "um ato isolado". Tal, sublinhou, seria "injusto e precipitado".