As seis identificações pela polícia aconteceram em escolas de Lisboa, Faro e Setúbal. Duas estudantes "fecharam" esta manhã a Faculdade de Psicologia de Lisboa.
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A PSP identificou seis pessoas em escolas dos distritos de Lisboa, Faro e Setúbal, que participaram em ações desenvolvidas por ativistas do movimento Fim ao Fóssil em estabelecimentos de ensino. Os números, avançados ao JN por aquela força policial, referem-se ao período entre o arranque da nova fase de ocupações e protestos, a 26 de abril, e o dia de ontem. Os estudantes reivindicam o fim ao fóssil até 2030 e a eletricidade 100% renovável e acessível até 2025.
De acordo com a PSP, "dependendo da forma como as ações são concretizadas e da intenção da entidade gestora dos respetivos espaços, poderão (em teoria), estar em causa a prática dos crimes de entrada em local restrito ou de desobediência". "Verificamos, contudo, que, na grande maioria das ações, os respetivos organizadores têm tido o cuidado de procurar minimizar o impacto nas atividades letivas, que a PSP apela seja um comportamento a manter, porquanto facilita o diálogo com todas as partes".
A presença policial nas ações "já era previsível", considera Teresa Núncio, porta-voz do movimento, explicando que "a primeira resposta das pessoas é não querer sair da normalidade". Mas "se as pessoas não se responsabilizam e não tomam ação e saem da sua normalidade, o que vai ganhar são sempre os grandes interesses, governos que têm inação e os interesses fósseis, e é isso que está a acontecer e que nós viemos pôr em causa". A PSP ser chamada a intervir durante algumas ações em escolas e universidades, garante, não demove os ativistas.
Esta terça-feira, estudantes colocaram-se na entrada da Faculdade de Psicologia da Universidade de Lisboa, apelando à sociedade que se revolte com a "normalidade da crise climática", que "aprisiona" o futuro. Teresa Núncio disse ao JN que vão estar acampados à frente da faculdade e, até à meia-noite, decorrerão sessões de ciência sobre o clima com diversos oradores convidados.
Será o "grande final" neste local, mas o movimento não esmorece. "Não estamos propriamente satisfeitos com a resposta da sociedade, mas tivemos vitórias", explica Teresa Núncio, adiantando que conseguiram sensibilizar vários elementos da sociedade e o movimento se estendeu a diversos pontos do país, continuando a decorrer pontualmente ações noutros estabelecimentos de ensino.
Protesto prossegue na Faculdade de Psicologia
Por volta das 7 horas da manhã desta terça-feira duas ativistas fecharam-se na entrada principal da Faculdade de Psicologia, em Lisboa, impedindo que outros estudantes e professores entrem no edifício. As estudantes "exigem que a reitoria da Universidade de Lisboa apele, como o secretário-geral das Nações Unidas, à disrupção para parar a destruição, convocando todos os seus membros para o bloqueio do maior terminal de importação de gás em Portugal: o porto de Sines, a 13 de maio, com a ação mais disruptiva que o país já viu", informa o grupo de ativistas em comunicado.
Dentro do espaço da entrada, as jovens colocaram cartazes nas portas apelando que se cumpra a ciência. Enquanto o protesto decorria, no exterior outros ativistas participavam em palestras de ciência climática com a presença de cientistas e investigadoras.
"A crise climática aprisiona o nosso futuro. Estamos sem acesso a comida até termos motivo para sair, porque em crise climática não vamos ter a escolha de ter comida, como muita gente hoje já não tem", defende Teresa Cintra, uma das estudantes barricadas na entrada da faculdade.
A sua colega, Jade Lebre, também dentro do edifício, insiste que "uma resposta adequada à normalidade tem de ser compatível com a ciência climática". "Face a uma normalidade marcada por crises cada vez maiores, a nossa resposta tem de impedir o seu funcionamento de forma cada vez mais sistemática", defende a jovem, citada na nota.
Ao JN, André Matias, o porta-voz que se encontra no exterior, adiantou que as estudantes vão bloquear a entrada principal até "que haja uma boa razão" para desocupar o espaço, lembrando que as colegas estão sem acesso a comida ou a necessidades básicas. "Enquanto as empresas fósseis continuam a lucrar ao sacrificar o nosso futuro, as nossas companheiras estão a sacrificar o seu presente para garantir um futuro digno para todos", defende.
O grupo que se encontra no exterior a apoiar a ação continua a apelar que 1500 pessoas participem na ação contra o gás natural marcada para o próximo sábado, 13 de maio, no porto de Sines. O porta-voz adverte que para retirarem as estudantes "vão ter de passar por cima da ciência climática". "Temos neste momento cientistas e especialistas em ciência climática a dar palestras [no exterior], o que torna impossível retirar as ativistas sem retirar também a ciência climática", explica.
Os ativistas estão desde 26 de abril a acampar em tendas à entrada da faculdade. André Matias garante que ao longo destas duas semanas têm mantido uma relação pacífica com o diretor.