A Delegação Distrital de Vila Real da Ordem dos Engenheiros e os colégios nacionais e regionais de Agronómica e Florestal organizaram, em Ribeira de Pena, uma conferência sobre os sumidouros de carbono.
Corpo do artigo
O objetivo foi debater os contributos que a Engenharia pode aportar na procura de soluções. Ao mesmo tempo, pretendeu incentivar a discussão deste tema que tem vindo a suscitar cada vez mais interesse por parte dos engenheiros e demais intervenientes ligados à floresta e à agricultura.
O diálogo aberto sobre o assunto é um dos caminhos apontados por Luís Valente de Oliveira. O antigo ministro em várias pastas disse que preparar um programa de sucesso com sumidouros de carbono implica interação e comunicação clara entre os vários tipos de agentes envolvidos.
O engenheiro civil deu o exemplo do que foi feito em projetos em cujo lançamento teve responsabilidade direta, como o Projeto de Desenvolvimento Rural Integrado de Trás-os-Montes, o Alqueva e o Parque de Serralves. Exemplos que, na sua opinião, devem ser “assumidos como paradigmáticos e ser tidos em atenção” no contexto dos sumidouros de carbono.
Para o engenheiro do Ambiente Rui Nobre Gonçalves, uma das respostas para o aumento dos desafios ambientais e climáticos está na “valorização e na inovação”. Sobre o Mercado Voluntário de Carbono (MVC), o antigo secretário de Estado das Florestas sublinhou a importância da “não dispersão”. É uma situação que poderá ser “provocada pela panóplia de mercados existentes ou a criar”, e que vão pugnar pela promoção de um mercado global de créditos de carbono.
Rodrigo Sarmento Beires, engenheiro civil de planeamento territorial, lembrou as obrigações a que Portugal está sujeito, no âmbito do Roteiro para a Neutralidade Carbónica 2050. Este vai exigir que cresça na área de floresta, entre 3500 e 9000 hectares por ano. Só que não basta crescer. Tem de ter gestão profissional, base da certificação e em gestão integrada, obrigações indispensáveis para os sumidouros de carbono florestais.
O professor da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD) José Aranha destacou a utilização de tecnologias digitais na monitorização. Será a forma de se poder responder em escala à necessidade que se avizinha de criar respostas em tempo útil. Identificou a abordagem a pequenas florestas e matas naturais parcialmente geridas, assim como a povoamentos florestais e bosquetes geridos.
José Aranha deu um exemplo de recolha de informação na Mata Nacional de Quiaios, num momento pós incêndio. Na sua opinião, a recolha em campo assume uma inquestionável importância para que seja produzida informação válida para apoio à decisão. Esta situação não coloca em causa a notória importância dos sistemas de informação geográfica e deteção remota para apoio e garantia de uma correta estimativa da biomassa florestal.
Por seu lado, Henrique Trindade, também docente da UTAD, abordou a redução da pegada ambiental em ruminantes e o potencial de sequestro de carbono, sem esquecer as preocupações que existem no setor, face aos desafios que se colocam para a redução dos gases com efeito de estufa. O também investigador referiu, no entanto, que, face aos desafios identificados, o setor terá a devida capacidade de resposta positiva. “Existe a necessidade de promover uma diminuição, face a 2005, de 5% das emissões até 2030 e de 11% até 2040”, notou.
Durante a sessão, foi sinalizada a necessidade de existirem “mais esclarecimentos sobre a implementação do MVC na área do investimento florestal”, bem como a “demora na divulgação dos suportes legislativos”. As dúvidas levam a que se identifique uma certa “fragilidade” na possibilidade de envolvimento de um grande número de proprietários florestais.
Neste contexto, ao assumir que a totalidade do investimento florestal apoiado por fundos públicos não proporcionará ao proprietário a usufruição dos créditos de carbono gerados, será muito limitante uma forte adesão florestal ao MVC. Em suma, não criando soluções, este será um sério entrave à adesão, ao entendimento e ao investimento privado quando assumido pelo proprietário presente territorialmente.