Bruxelas aprovou 15 milhões de euros para a destilação de crise, mas autoriza até mais 200% de verbas nacionais. Há 200 milhões de litros em excesso em Portugal.
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Portugal prepara-se para, pela quarta vez em cinco anos, fazer uma nova destilação de crise, ou seja, pagar para que os vinhos em excesso no mercado sejam queimados e transformados em álcool para fins industriais e energéticos.
São 15 milhões de euros que Bruxelas aprovou, na semana passada, para esta destilação “temporária e excecional”, devido a uma acumulação de stocks “sem precedentes”. O setor considera o valor insuficiente, atendendo à existência de cerca de 200 milhões de litros de vinho por vender.
Pouco se sabe ainda sobre como será operacionalizada a destilação, sendo certo que, no comunicado que deu a conhecer este pacote europeu, o ministro da Agricultura, José Manuel Fernandes, deixou já claro que se trata de uma medida “que não será repetida no futuro” e que a atribuição do apoio “vai obedecer a rigorosos critérios e regras de elegibilidade e de controlo”. Mais, os produtores que tenham importado vinho nos últimos três anos “não são elegíveis para receber apoios à destilação”.
Bruxelas diz que os 15 milhões podem ser complementados “até 200% com fundos nacionais”. Ou seja, até 30 milhões de euros, que é o que o setor reclama. A dúvida é se o Governo irá tão longe e a que preço será pago o vinho a destilar.
Em 2023, houve preços diferenciados por região, com valores que variaram entre os 44 cêntimos por litro de Trás-os-Montes e 76 cêntimos da Bairrada. No Douro, foram pagos 90 cêntimos por litro -, o que gerou protestos e a convicção de que, se o preço fosse igual, seria possível escoar muito mais vinho.
Francisco Toscano Rico, presidente da Associação Nacional das Denominações de Origem (ANDOVI) diz que a regionalização de preços foi “um erro” que levou a que, “face à dimensão do envelope disponível (20 milhões de euros), se acabasse por destilar muito pouco”. O preço deve ser igual, com exceção “talvez” do Douro, defende.
Francisco Mateus, presidente da Comissão Vitivinícola do Alentejo, sugere um preço máximo: “A 45 cêntimos por litro, poderíamos retirar 100 milhões de litros do mercado. Se estivermos a pensar em valorizar [o vinho] em função da região, possivelmente não vamos conseguir retirar a quantidade necessária para se conseguir chegar a 2025 com o setor equilibrado”.