Na área da GNR, houve 6324 sinistros, mais 459 do que no mesmo período de 2020, com 53 mortes. Especialistas atribuem aumento ao regresso do país à normalidade e aos comportamentos de risco.
Corpo do artigo
Os acidentes voltaram a aumentar neste verão e, em junho, até houve mais sinistros do que em 2019. Após a quebra registada em 2020, a sinistralidade nos meses de junho, de julho e de agosto deste ano aproxima-se dos níveis pré-pandemia.
Neste três meses, na área da GNR, contam-se 6324 acidentes - somando autoestradas, estradas nacionais e estradas municipais -, mais 459 do que no período homólogo do ano anterior (5865) e já perto da "normalidade" de 2019 (6636). O número de vítimas também indicia a deterioração da situação. Por exemplo, contam-se mais feridos graves (280) neste verão do que em igual período dos três anos anteriores.
Só no mês passado, houve 24 mortes nestas estradas, segundo dados da GNR. O número é idêntico ao registado em agosto de 2020 (anormalmente mortal face à redução de acidentes) e de 2019. Apenas em 2018 a sinistralidade de agosto foi maior, com 37 óbitos.
A contagem dos feridos graves em agosto também deixa antever um regresso às más cifras pré-pandemia: em 2021, houve 109, mais seis do que em 2020. No mês homólogo de 2019 registaram-se os mesmos 109 e, em 2018, apenas 97.
Se se considerar o trimestre junho/agosto, verifica-se que houve 6324 acidentes em 2021. Um número mais próximo do período homólogo de 2019 (6636) do que do primeiro ano da pandemia (5865). Quanto às mortes, as 53 deste trimestre aproximam-se das 55 de 2019 - embora 2020 tenha tido um registo particularmente negativo (72 óbitos).
No verão de 2020, a pandemia não teve um efeito positivo na sinistralidade. Pelo contrário, em junho e julho as mortes até aumentaram face a igual período de 2019 (mais 6 e mais 11, respetivamente).
Fadiga e distração
Em junho, o ministro da Administração Interna, Eduardo Cabrita, afirmou que os dados da sinistralidade de 2020 foram "os melhores de sempre". Mas Manuel João Ramos, presidente da Associação de Cidadãos Auto-Mobilizados, diz que o Governo tem dado um mau exemplo. Lembra o atropelamento protagonizado pelo carro onde seguia Cabrita na A2, bem como outros excessos de velocidade de membros do Governo: "Nenhuns milhões gastos pela Autoridade Nacional para a Segurança Rodoviária (ANSR) têm o impacto desses comportamentos", atira.
O aumento da sinistralidade em 2021 também "não surpreende". E lembra que estes dados não têm em conta os mortos a 30 dias, que só são ponderados no relatório da ANSR (por publicar). José Miguel Trigoso refere o mesmo, acrescentando que os dados relativos aos itinerários principais (IP) poderiam ajudar a perceber melhor a realidade.
Ainda assim, Trigoso não encontra "alterações significativas" na sinistralidade, "tirando o facto de haver um aumento do volume de circulação". Em termos proporcionais, a realidade atual não difere muito da norma pré-covid. Aponta a fadiga e a "distração provocada pelo telemóvel" como dois perigos nas autoestradas. "O facto de termos estado em pandemia não altera o nosso comportamento" ao volante, diz. Admite que a evolução técnica dos carros ajudará a que, "aos poucos", a sinistralidade baixe.
Manuel João Ramos critica a falta de medidas preventivas e diz que a presença de polícias nas estradas "continua a ser simbólica". "A renovação contínua do parque automóvel" também poderá, a prazo, ajudar a diminuir os desastres.