Sinistralidade grave em 2022 supera os dois últimos anos de pandemia e aproxima-se de volume de acidentes registados antes da covid-19. Na primeira quinzena do mês, houve 30 vítimas mortais.
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Na primeira quinzena de agosto deste ano, a PSP e a GNR registaram 30 vítimas mortais decorrentes de acidentes de viação. Na estatística das autoridades, é notório o agravamento da sinistralidade rodoviária no verão, sendo que os primeiros 15 dias de agosto de 2022 podem ser mesmo os mais mortíferos dos últimos quatro anos. Houve quase seis mil acidentes (5754) neste período.
Num dos indicadores da sinistralidade grave, o das vítimas mortais, há o registo de 28 mortes em 2019, 17 em 2020, 27 em 2021 e 30 em 2022 pelas duas autoridades em agosto. Os números da PSP referentes aos últimos três anos englobam os dados de todo o mês de agosto, enquanto os da GNR englobam apenas a primeira quinzena. Os valores revelados ao JN podem, por isso, estar subvalorizados e não mostrar ainda a dimensão real do problema.
Alain Areal, diretor-geral da Prevenção Rodoviária Portuguesa (PRP), explica ao JN que os "dados a curto período podem não ser ainda muito representativos", mas clarifica que a mudança de quinzena, entre os que vão de férias e os que regressam a casa, pode ter impacto nos números da sinistralidade de agosto.
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A GNR, com uma área de atuação fora da malha urbana, das médias e das grandes cidades, concentra a maior parte do número de sinistros, feridos graves e mortos na primeira quinzena de agosto. Registaram 28 mortes nos primeiros quinze dias deste mês, ultrapassando as 24 mortes apontadas no mesmo período de 2019.
Números voltam a subir
No total acumulado entre 1 de janeiro e 15 de agosto, os militares da GNR verificaram que houve já mais feridos graves em 2022 (1123) do que em 2019 (1072), o que confirma a tendência de aproximação ou de ultrapassagem dos números da sinistralidade antes da pandemia, mais precisamente do ano de 2019. As duas autoridades juntas registam tantos feridos graves desde o início do ano e até 15 de agosto como os verificados no ano de 2019 (ver infografia).
Em 2020 e 2021 - anos marcados por períodos de confinamento devido à covid-19 e com menos mobilidade nas estradas -, os indicadores de acidentes de viação baixaram todos. "É expectável mais sinistralidade agora por causa do maior volume de tráfego [face a 2020 e 2021]", defende o diretor-geral da PRP ao JN.
Menos gente, mas mais crimes
No entanto, menos gente nas estradas não significou menos crimes rodoviários. Por exemplo, o da condução sem habilitação legal subiu de 73% de 2019 para 2021. No último ano, 4618 condutores foram apanhados pela polícia a cometer esta infração.
Na área de atuação da PSP, na malha urbana, os números de sinistralidade rodoviária grave no verão são mais residuais. Mas, ainda assim, os dados mostram um agravamento. A polícia aponta para duas mortes em acidentes nos primeiros 15 dias de agosto deste ano, mais uma do que todo o mês de agosto de 2021. Em junho de 2022 houve também mais vítimas mortais (5 no total) do que em junho de 2019 (3).
Para Alain Areal, a sensibilização dos condutores em campanhas e em ações de fiscalização está mais reforçada, "o que produz em ganhos na segurança rodoviária". Porém, o diretor-geral da PRP afirma que há caminho a percorrer na educação rodoviária, uma realidade que tem de estar assegurada no ensino da condução.
O último relatório da Autoridade Nacional da Segurança Rodoviária, datado de abril deste ano, revela que 54,5% das infrações se deveram a excesso de velocidade. Quase 20 mil condutores foram apanhados numa semana.