Recém-especialistas deverão assinar contrato até ao início de maio. Diretor-executivo admite que faltam profissionais.
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A contratação dos médicos que terminaram em março a especialidade em psiquiatria e em pedopsiquiatria deverá ficar concluída até ao final de abril ou início de maio. O objetivo é evitar que saiam do Serviço Nacional de Saúde (SNS).
A informação foi avançada, esta terça-feira, pelo diretor-executivo do SNS numa audição do grupo de trabalho de Saúde Mental. "Vamos tentar que as contratações para estas áreas específicas, nomeadamente pedopsiquiatria e psiquiatria, aconteçam até ao final de abril, início de maio, para ganharmos um espaço de tempo considerável e evitarmos, eventualmente, a saída de potenciais médicos jovens que são precisos para dar uma força ao SNS nesta área considerada por nós prioritária", afirmou Fernando Araújo no Parlamento.
O diretor-executivo do SNS explicou que as vagas costumam ser conhecidas em junho/julho e as contratações acabam por acontecer no final de agosto ou no início de setembro. Fernando Araújo anunciou a antecipação das contratações, depois de os deputados lhe perguntarem se está confortável com os recursos humanos disponíveis no SNS para dar resposta à saúde mental em Portugal.
60% sem acesso
"Não estamos confortáveis com o número de profissionais", disse, admitindo que "os recursos humanos não são suficientes, neste momento", e que é objetivo da Direção Executiva do SNS aumentar as respostas.
Helga Correia, do PSD, foi uma das deputadas a manifestar preocupação com a escassez de recursos. A social-democrata realçou que Portugal tem uma prevalência de 23% de perturbações psiquiátricas e que o rácio de psiquiatras no SNS (oito por 100 mil habitantes) está muito abaixo da média da OCDE (17 por 100 mil habitantes).
"Cerca de 60% dos diagnosticados não terão acesso a cuidados de saúde mental, porque a oferta é limitada no SNS. No final do ano passado, mais de 12 mil utentes esperavam por uma primeira consulta de psiquiatria e os doentes classificados como muito prioritários chegam a esperar 97 dias por uma consulta", revelou Helga Correia.
Fernando Araújo reconheceu que parte da população não tem acesso a cuidados, mas lembrou que uma parte nem sequer os procura devido ao estigma. Defendendo, por isso, que a política de saúde mental tenha "instrumentos para conseguir, de alguma forma, ir ao encontro destas necessidades, por vezes escondidas".
Pedro Frazão, do Chega, acrescentou que, num estudo feito durante a pandemia, 700 mil portugueses apresentaram sintomas depressivos. A taxa de suicídios, uma média de dois por dia, também foi invocada. "O suicídio é a principal causa de morte em crianças e jovens adultos portugueses. Uma em cada seis mortes ocorre em pessoas com idades entre os 10 e os 29 anos", disse. O grupo de trabalho está a finalizar a proposta de lei sobre saúde mental. Hoje, será ouvido o ministro da Saúde.