Tratamento domiciliário abrangeu mais de 10 mil pessoas desde outubro de 2018. Pandemia potenciou abertura de camas para libertar instituições.
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O Centro Hospitalar de Trás-os-Montes e Alto Douro, o Hospital de Braga, o Centro Hospitalar Universitário de Coimbra e a Unidade Local de Saúde do Baixo Alentejo são as quatro instituições do Serviço Nacional de Saúde (SNS), de um grupo de 38 elegíveis, que ainda não avançaram com a hospitalização domiciliária.
"Cada um tem as suas condições e nós compreendemos. Por isso é que estamos aqui para apoiar", disse Delfim Rodrigues, diretor do Programa Nacional de Hospitalização Domiciliária, ao JN.
"A tendência é continuar a aumentar. Quando começámos, há dois anos e meio, éramos duas unidades [Garcia de Orta, em Almada, e o Centro Hospitalar de Gaia/Espinho]. Terminámos 2018 com quatro, depois chegámos ao fim de 2019 com 24 e ao dia de hoje somos 34", prosseguiu.
Desde o arranque do projeto, em outubro de 2018, já foram tratados em casa 10 219 doentes. Destes, 4876 no ano passado. Sem contar com os que foram internados antes do arranque formal do projeto nos hospitais de Almada e de Gaia/Espinho. O maior impulso chegou no último ano, altura em que foi preciso libertar camas nos hospitais para tratar doentes com covid-19. "Entre janeiro e abril de 2021, tínhamos tratado 2019 doentes, contra 1529 em abril de 2020".
"Pandemia foi um catalisador"
O responsável lembrou que já em plena pandemia o "Plano da Saúde para o Outono-Inverno", da Direção-Geral da Saúde, previa o incremento da hospitalização domiciliária para se evitar que os doentes e familiares contraíssem a infeção por covid-19, bem como a proteção dos profissionais de saúde.
"Cumpriram-se claramente estes objetivos", disse, acrescentando que a hospitalização domiciliária também abrangeu o internamento em casa de doentes com covid-19. "Neste caso, a pandemia não foi um constrangimento, foi, de facto, um catalisador".
No Hospital Garcia de Orta, em Almada, que desde 2015 interna doentes em casa, a pandemia também acelerou o desenvolvimento da Unidade de Hospitalização Domiciliária (UHD). "No pico da pandemia, entre março e abril, em média foram disponibilizadas 13 vagas para um máximo de 19, tendo nesse período sido assegurado o internamento de 127 doentes", revelou Vitória Cunha, coordenadora da UHD.
O hospital "organizou equipas e respostas específicas para a prestação de cuidados a doentes covid-19, contribuindo para diminuir a pressão no internamento hospitalar e aumentar a segurança de doentes e cuidadores. Procuramos abranger os doentes covid e os não-covid conforme as necessidades hospitalares, abrangendo alguns doentes que antes da pandemia não seriam admitidos tão precocemente na unidade", acrescentou, sublinhando que "a pandemia também nos ensinou a crescer e a ganhar mais experiência no tipo de doentes que somos capazes de tratar em casa".
No início do mês, a UHD estava a prestar cuidados a 25 doentes não-covid e a cinco covid, com uma equipa multidisciplinar de 29 profissionais, uns a tempo inteiro outros a tempo parcial. Em 2020, nenhum doente que teve alta foi reinternado nas 72 horas posteriores.
Quase uma unidade de gama média, mas com menos custos
Até abril de 2021, as unidades com hospitalização domiciliária acompanhavam, em simultâneo, 270 camas, o equivalente à capacidade de um hospital de gama "média/alta", mas com ganhos superiores. Um ano antes, eram 198 camas.
"Estes 4876 doentes tratados em 2020 equivalem a uma eficiência em termos de custos diretos de 45,47%. Quer dizer, foram tratados por 7336 milhões de euros, quando o equivalente num hospital seria muito perto dos 14 milhões de euros", explicou Delfim Rodrigues.
No Garcia de Orta, a percentagem de poupança é idêntica. "Os custos diretos de tratamento de doentes em hospitalização domiciliária são cerca de 30 a 40% inferiores aos do internamento convencional", revelou Vitória Cunha.
A médica frisa, no entanto, que esta redução também se deve ao facto de os doentes tratados em casa terem problemas menos complexos. No entanto, com o passar dos anos e experiência adquirida são internados nesta modalidade um número maior de doentes a precisarem de tratamentos mais diferenciados. Quando o projeto arrancou em Almada, começaram por ser admitidos "doentes com patologia do foro médico, mas a resposta foi progressivamente alargada a doentes cirúrgicos em fase pós aguda", acrescentou.
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5000 novos doentes tratados em hospitalização domiciliária até 2024, segundo o previsto pelo Plano de Recuperação e Resiliência. O documento não atribui verba específica para o alargamento dos tratamentos em casa, mas, segundo Delfim Rodrigues, há dotação que está consagrada na área da digitalização da saúde, designadamente para a monitorização remota dos doentes.
Congresso no Porto
A Alfândega do Porto acolhe amanhã e depois o primeiro "Congresso Nacional de Hospitalização Domiciliária". O encontro é organizado pela Sociedade Portuguesa de Medicina Interna.