Sondagem: AD de Montenegro afunda (29,7%), Chega de Ventura recupera (22,6%) e volta a estar a par do PS de Carneiro (23,1%)
Análise de Rafael Barbosa e gráficos de Inês Moura Pinto
Luís Montenegro já viveu melhores dias. De acordo com a sondagem de dezembro da Pitagórica para o JN, TSF, TVI e CNN, a AD afunda-se quase nove pontos face ao barómetro de novembro e fica-se pelos 29,7%, abaixo até do que conseguiu nas legislativas. Ao contrário, o Chega recupera do trambolhão do mês passado e volta a um nível (22,6%) próximo do que conseguiu nas últimas eleições. O PS também perde gás, mas mantém o segundo lugar, ainda que por escasso meio ponto (23,1%). Mais para baixo, só há boas notícias para liberais de esquerda e de direita: Livre e Iniciativa Liberal estão a crescer e empatam nos 7,3%. No fundo da tabela seguem a CDU (2,6%), o BE (1,3%) e o PAN (0,5%).
A liderança da coligação que junta PSD e CDS continua a ser relativamente folgada (29,7%), com uma vantagem de quase sete pontos sobre o PS (para lá da margem de erro), mas a quebra é acentuada. Uma explicação possível é a contestação à reforma laboral e a greve geral, que decorreu a 11 de dezembro, precisamente o dia em que se iniciou o trabalho de campo desta sondagem (prolongou-se até 19 de dezembro).
A situação só não é pior para Montenegro porque José Luís Carneiro também acusa algum desgaste (23,1%), recuando três pontos. Pior ainda, em novembro, os socialistas superavam o Chega a dez pontos e, um mês depois, voltam a uma situação de empate e tão maltratados como nas legislativas de maio passado.
Se não há nenhuma explicação evidente para a quebra dos socialistas, pode haver uma para a recuperação do Chega (22,6%): a exposição mediática de André Ventura que, enquanto candidato presidencial, participou, ao longo das últimas semanas, em vários frente a frente, incluindo os três que tiveram maior audiência televisiva (com Marques Mendes, António José Seguro e Catarina Martins). A recuperação do Chega, de um mês para outro (seis pontos) está também em linha com a progressão de André Ventura enquanto candidato a Belém (quatro pontos). Embora persista o facto surpreendente de o líder valer menos do que o partido.
Livre e Iniciativa Liberal são os que mais crescem
Quando se comparam os resultados desta sondagem com as últimas legislativas, nenhum dos três maiores partidos se destaca pela positiva. Essa "medalha" vai para os dois seguintes na tabela, em particular o Livre, que somaria mais três pontos, enquanto a Iniciativa Liberal cresceria dois pontos (ambos com 7,3%). Recorde-se que, nas eleições, os liberais de Esquerda ficaram mais de um ponto atrás dos liberais de Direita.
Dois partidos recentes com pontos em comum: um eleitorado mais jovem (superam a média nos escalões etários até aos 44 anos), dificuldades nos mais velhos e uma razoável distribuição pelas diferentes regiões de país, com o melhor resultado a ser registado em Lisboa. Mas também diferenças claras: o Livre mais feminino e mais bem cotado nas classes médias, IL mais masculino e a destacar-se entre quem tem melhores rendimentos.
Direita continua a valer bem mais do que a Esquerda
O barómetro da Pitagórica tem detetado várias oscilações, algumas bastante acentuadas, mas há uma tendência que se mantém firme: a predominância dos partidos à Direita, que somam 60 pontos percentuais, praticamente o mesmo valor registado nas eleições de maio, embora com uma AD ligeiramente enfraquecida e uma IL um pouco mais forte. São mais 25 pontos do que o bloco de partidos à Esquerda, que se fica pelos 35 pontos, um pouco acima das legislativas, por responsabilidade quase exclusiva do Livre.
Esta supremacia da Direita repercute-se por todos os segmentos da amostra, mas com intensidades diferentes. Se tivermos em conta o género, por exemplo, a vantagem da Direita sobre a Esquerda é maior entre os homens (34 pontos) do que entre as mulheres (14 pontos). Nos escalões etários, é nos 35/44 anos que se concentra a maior percentagem de eleitores à Direita (vantagem de 41 pontos), enquanto nos mais velhos a situação é bem mais equilibrada (mesmo assim, mais sete pontos).
Finalmente, e considerando a geografia, é no Norte que o bloco que inclui a AD, o Chega e a IL mais se destaca (vantagem de 29 pontos), enquanto em Lisboa o bloco que inclui PS, Livre, CDU, BE e PAN consegue reduzir a desvantagem para nove pontos.
PS e Chega empatados com eleitores muito diferentes
O PS e o Chega estão praticamente empatados na sondagem (a vantagem de décimas dos socialistas não tem relevância estatística), mas a composição dos respetivos eleitorados é bastante distinta, como se percebe, de novo, pela análise aos diferentes segmentos da amostra (género, idade, classe social e geografia). Ventura leva vantagem de quase seis pontos entre os homens, sucedendo exatamente o contrário entre as mulheres, com Carneiro na frente.
Apesar do empate entre os mais jovens, e quando se compara exclusivamente os dois partidos, o Chega domina entre os 25 e os 54 aos (com destaque para os 14 pontos de vantagem sobre os socialistas nos 35/44 anos), enquanto o PS lidera dos 55 em diante (e em particular nos mais velhos, também com uma vantagem de 14 pontos sobre o Chega). Se o ângulo mudar para a classe social, Carneiro está nove pontos acima de Ventura nos que têm maiores rendimentos, mas entre os mais pobres a situação inverte-se (sete pontos a favor do Chega).
Bloco Central com desafio difícil nos 25/34 anos
Numa análise global aos 15 segmentos da amostra (sempre sem distribuição de indecisos, ao contrário do que sucede com a intenção de voto geral), é sem surpresa que se verifica que a AD lidera em nove deles, enquanto o Chega fica e primeiro em quatro e o PS apenas em dois.
A coligação liderada por Luís Montenegro revela um balanço quase perfeito no género (ao contrário de PS e Chega), mas também um relativo equilíbrio ao longo da pirâmide etária, com duas exceções: o pior resultado surge nos 25/34 anos e o melhor dos 55/64 anos (com uma diferença de 17 pontos percentuais entre estes dois escalões). O PS é mais desequilibrado, mas partilha o pior resultado com os sociais-democratas nos 25/34 anos, conseguido o seu topo entre os que têm 65 ou mais anos, onde é, aliás, o partido mais votado (20 pontos de diferença entre o resultado dos socialistas nas duas faixas etárias).
A fragilidade dos dois partidos do chamado Bloco Central entre os eleitores dos 25 aos 34 anos, explica-se, quer pelo facto de o Chega ser o partido favorito neste escalão (19,5%), quer por ser também entre estes que a Iniciativa Liberal (15,4%) e o Livre (10,6%) atingem o seu pico de popularidade. Refira-se, no entanto, e relativamente ao partido de André Ventura, que é na faixa dos 35/44 anos que consegue o seu melhor resultado (29%, quase o dobro dos socialistas).
Norte é território da AD, PS à frente em Lisboa
No que diz respeito às diferentes regiões do país, a AD vence no Centro e no Norte (e aqui com 32,5%, o melhor resultado regional), sendo esta última a mais adversa para o PS, que no entanto consegue ficar em primeiro em Lisboa (24,3%), a mais agreste para a AD. O Chega lidera no resto do país (Oeste, Alentejo, Algarve e ilhas) e tem maiores dificuldades em Lisboa, que é aliás a região em que o equilíbrio é maior (é aqui que Livre, IL, BE e PAN têm os seus melhores prognósticos).
Finalmente, quando o ângulo incide sobre as três classes sociais em que se divide a amostra, percebe-se que AD e IL partilham a tendência de conseguir maior proporção de votos, quanto maior for o rendimento dos eleitores (a diferença é de 15 pontos no caso da coligação e de oito no caso dos liberais, entre a base e o topo), enquanto no Chega acontece rigorosamente o contrário, cresce à medida que o eleitorado empobrece (e com um fosso de 20 pontos no resultado que consegue entre os mais ricos e os mais pobres, sendo partido mais votado neste segmento, com 30,5%). PS e Livre distribuem-se de forma mais equitativa nas classes sociais, mas os socialistas destacam-se entre os mais pobres e o Livre entre a classe intermédia.
Ficha Técnica
Sondagem realizada pela Pitagórica para a TVI e CNN Portugal com o objetivo de avaliar a opinião dos portugueses sobre temas relacionados com a atualidade nacional e internacional e com as eleições presidenciais de 2026. O trabalho de campo decorreu entre os dias 11 e 19 de dezembro de 2025. A amostra foi recolhida de forma aleatória junto de eleitores recenseados em Portugal e foi devidamente estratificada por género, idade e região. Foram realizadas 2012 tentativas de contacto, para alcançarmos 1000 entrevistas efetivas, pelo que a taxa de resposta foi de 49,7%. As 1000 entrevistas telefónicas recolhidas correspondem a uma margem de erro máxima de +/- 3,16% para um nível de confiança de 95,5%. A distribuição de indecisos é feita de forma proporcional. A direção técnica do estudo é da responsabilidade de Rita Marques da Silva. A ficha técnica completa, bem como todos os resultados, foram depositados junto da ERC - Entidade Reguladora da Comunicação Social que os disponibilizará para consulta online.

