A raspadinha "Super Pé-de-meia", líder de vendas, já ofereceu aos portugueses um valor superior a 192 milhões de euros. Três anos depois da chegada ao mercado nacional, pelo menos seis pessoas estão a receber um salário extra todos os meses.
Corpo do artigo
Os prémios variam entre o mais cobiçado, de 2000 euros/mês durante 12 anos, e o mais pequeno, no valor do bilhete (cinco euros), que funcionam como estímulo para continuar a apostar.
A instituição Jogos Santa Casa não divulga o número dos prémios máximos atribuídos, na ordem dos 1600 euros após o desconto de 20% encaixado pelo Estado em imposto. Seis casos foram notícia mas o número será certamente superior. Os agentes comerciais garantem confidencialidade aos clientes e disso avisam em qualquer balcão.
Um cálculo feito a partir da informação exposta no verso de um bilhete pertencente a uma edição de 12.012.000 cartões permite deduzir que, desse total, 10 deles correspondem ao prémio principal. Ou seja: um prémio por 1,2 milhão de apostas; um bónus de 2000 mil euros para a quase totalidade dos habitantes da área metropolitana do Porto (1,7 milhões). O segundo prémio promete 1500 euros por seis anos. O valor mínimo (5 euros) sai uma vez a cada seis.
A venda do jogo mais bem sucedido na família "Pé-de-meia" rendeu 274,4 milhões (até junho); e no último ano 99,9 milhões, quando a "Mini Pé-de-Meia" ficou pelos 67 milhões. E de 2012 para 2014, duplicou o negócio. O Euromilhões continua a ser o jogo preferido.
Azar no amor mas sorte ao jogo
Os vencedores da Super Pé-de-Meia, uma das raspadinhas dos Jogos Santa Casa mais populares, são discretos, preferem o anonimato, mas não escapam à vigilância dos que assistiram ao momento da descoberta de terem ganho o primeiro ou segundo prémio, afinal 2000 ou 1500 euros por mês (ainda sem os descontos de 20% para impostos) durante 12 ou seis anos.
Os donos dos quiosques e cafés onde foram reclamados os prémios contam histórias de vida alinhadas pelo tema do desemprego, emigração, divórcios, vaidade e presunção. Uns mudaram pouco depois de terem recebido esta almofada financeira. A outros subiu-lhes o dinheiro à cabeça.
"Anda com o rei na barriga. Deixou de vir cá como fazia antes. Mas parece-me que anda a gastar mais do que ganha". O comentário pertence ao dono de um café localizado abaixo do Tejo, onde foi atribuído um dos primeiros prémios a um homem com quase 40 anos. Dizia na altura que não queria ser identificado por estar a meio de um processo de divórcio e preferia que a mulher não soubesse do encaixe extra.
Dos sinais de riqueza exterior sobressai uma boa mota, que exibia com orgulho. O entusiasmo pela velocidade valeu-lhe, recentemente, uma bacia quebrada e uma série de dias hospitalizado, devido a um acidente numa auto-estrada no Norte. Ainda mantém o emprego na empresa de reboques.
Um outro premiado, do Norte do país, na casa dos 30 anos, também teve sorte no jogo quando estava mal de amores. A namorada tinha-o deixado e ainda fazia o luto do fim da separação quando viu nas suas mãos uma raspadinha premiada. No caso, não foi o primeiro mas o segundo da Super Pé-de-Meia, equivalente mensal de 1500 euros durante seis anos. "A namorada já quer voltar para ele, ouvi dizer", ouviu alguém no café conhecido nas redondezas por ter atribuído um dos grandes prémios.
O empregado de mesa que já tinha bom salário e não fazia parte do grupo dos viciados no jogo que o proprietário do café bem conhece. "Muitas vezes, sou eu que lhes digo: 'Para hoje já chega, vá é para casa ter com a família". Este agente não fomenta a compra de mais boletins, porque prefere ter clientes contentes que vão ganhando prémios, a clientes endividados.
Outras das sortudas do Norte, empregada de limpeza até ao dia da compra da raspadinha certa, aproveitou o dinheiro a mais para ir ter com o marido, que estava emigrado em França.
No centro do país, foi muito falado o caso de jovem desempregado que ganhou o primeiro prémio. Foi com a namorada ao quiosque e começou por comprar um boletim. Insatisfeito com o resultado, voltou pouco depois e comprou mais duas raspadinhas e foi uma delas que veio a melhorar a sua vida. Como é que um desempregado tem dinheiro para gastar no jogo e porque é o que faz, alimentou comentários na internet até mais não. Ainda hoje frequenta o quiosque e o café ao lado onde os seus olhos identificaram o prémio e o deixaram aturdido. Ainda não arranjou emprego.
Nos casos relatados ao JN, todos os vencedores eram jogadores frequentes, se não todos os dias, pelo menos três vezes por semana.