Há novas tecnologias a dar contributos para tornar mais eficiente e sustentável a limpeza urbana e a gestão de resíduos, um esforço que se soma ao de redução do lixo produzido. Vários municípios já estão a adotar soluções elétricas e agora começam a aparecer no mercado veículos movidos a hidrogénio.
Corpo do artigo
Em Braga, onde, recentemente, decorreu o III Encontro Nacional de Limpeza Urbana, esteve em exibição uma varredoura a hidrogénio, uma solução baseada em tecnologia europeia que João Varela Pereira, da Certoma, acredita que em breve poderá estar a limpar as ruas portuguesas. Este equipamento, "que tem zero emissões de CO2, ajuda à descarbonização". Já fez "demonstrações em alguns municípios, para abrir mercado junto de entidades que possam estar interessadas nesta solução para futuro", conta.
Também a GMV, uma multinacional com instalações em Portugal, tem estudado soluções. A partir de imagens de satélite, conseguem monitorizar aterros, classificando a natureza dos resíduos para apoiar o cumprimento de obrigações e o volume de resíduos para apurar a vida útil dos locais. Também detetam deposições ilegais de lixo na via pública.
Estas potencialidades, conta António Araújo, da GMV, têm sido aproveitadas em iniciativas europeias, como a Rapid Action On Coronavirus and Earth Observation, onde monitorizaram a acumulação de resíduos nas cidades de Nápoles e Atenas. Atualmente, a empresa está a mostrar às organizações em Portugal como explorar esta capacidade.
Enquanto estes serviços não chegam, vão-se dando outros passos para que a limpeza seja, ela própria, mais sustentável. Cascais tem um sistema pioneiro que compacta resíduos. A Câmara de Anadia adquiriu duas bicicletas elétricas para os varredores.
Os sacos ficavam no chão, criando um problema acrescido quando não eram bem fechados ou animais errantes os rasgavam
Em Braga, conta Rui Morais, presidente da AGERE - Águas, Efluentes e Resíduos de Braga, desde 2018 foram investidos oito milhões de euros em novas tecnologias, incluindo varredouras elétricas, contentores com maior capacidade e camiões robotizados.
Até então, o centro de Braga tinha recolha de sacos de lixo porta a porta, mas "os sacos ficavam no chão, criando um problema acrescido quando não eram bem fechados ou animais errantes rasgavam os sacos, espalhando os detritos pela via pública". Agora recorre-se a um novo sistema nas zonas urbanas, com contentores de grande capacidade, que depois são recolhidos por um camião robotizado que apenas necessita de motorista e dispensa os cantoneiros. É um sistema "eficiente, que reduziu drasticamente aquele lixo no chão, que depois tinha de ser limpos pelos varredores", conta Rui Morais.
Luís Capão, presidente da Cascais Ambiente e da Associação de Limpeza Urbana (ALU), diz que "as pessoas sentem cada vez mais o problema da ineficácia dos serviços de limpeza urbana" e é preciso atuar, pois influi na "qualidade de vida e na valorização das cidades como locais turísticos, de competitividade empresarial ou para viver".
Para conhecer o setor a fundo (até agora só a recolha de resíduos estava quantificada e a dimensão da limpeza era desconhecida), a ALU desenvolveu o estudo "Caracterização do setor de limpeza urbana", que apresentou, na última semana, no III Encontro Nacional de Limpeza Urbana.
Sensibilização e fiscalização
Sabe-se agora que as atividades não reguladas da limpeza urbana empregam quase 12 mil trabalhadores (entre público e privado) e estima-se que custem 30 euros por habitante/ano
A questão do lixo, explica Luís Capão, é complexa e tem custos elevados. Além da recolha dos contentores, há muitos outros problemas, "como os objetos fora de uso abandonados na via pública, dejetos caninos, vandalismo com grafítis, monda química nos passeios com fitofármacos como o glifosato, limpeza de praias para as cidades nas zonas costeiras".
Para tornar o setor mais eficiente, a ALU quer ser indutora de inovação, "promovendo instrumentos como as compras públicas de inovação e identificando tecnologias e modelos promissores". Em paralelo, acrescenta o presidente, é preciso continuar a apostar na "sensibilização, fiscalização, redução da produção e na economia circular". Se não, "as cidades não conseguem dar resposta".
Em 2020, segundo dados provisórios da Agência Portuguesa do Ambiente (APA), foram recolhidos em Portugal continental 3,9 milhões de toneladas de resíduos indiferenciados e 988 mil toneladas de recolha seletiva.
A União Europeia tem metas ambiciosas de redução de resíduos e de incremento de economia circular. E a APA não tem dúvidas de que o ritmo atual de consumo não pode continuar, apontando "à utilização em excesso das capacidades do planeta, sendo que esta terá repercussões ao nível ambiental e de saúde, mas também ao nível social e económico".