Óbitos não param de aumentar, verificando-se um crescimento de 70% desde 2013. Maioria tem mais de 80 anos, é do sexo feminino e vive no Norte. Envelhecimento do país entre as causas.
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Numa altura em que se prevê que, dentro de 30 anos, duplique a população com demência no nosso país, os mais recentes dados do Instituto Nacional de Estatística (INE) mostram que os óbitos por aquela doença não param de aumentar. Em 2018, as demências foram a causa de morte de 6323 pessoas. São 17 óbitos por dia. Mais do que, por exemplo, a pneumonia ou a diabetes.
De acordo com os dados facultados ao JN pelo INE, do total de óbitos registados em 2018, mais de dois terços estavam classificados como "demência não especificada", seguindo-se a doença de Alzheimer, com 1689 mortes, e, por fim, a demência vascular (376).
Se em relação ao Alzheimer os óbitos mantêm-se estáveis desde 2013 - ano a partir do qual são possíveis comparações devido a alterações de codificação -, o mesmo não sucede com as demências não especificadas, que mais do que duplicam naquele período. Tudo somado, face a 2013, registou-se um aumento de 70% no número de óbitos.
Os dados do INE, que divulga amanhã as Causas de Morte em 2018 [ver infografia], permitem ainda traçar um perfil das pessoas que morreram por transtornos mentais e comportamentais (que inclui outras doenças, como a esquizofrenia, sendo as demências predominantes; e não inclui o Alzheimer, classificado nas doenças do sistema nervoso).
Perto de 83% tinham mais de 80 anos, com a faixa etária acima dos 85 a responder por quase dois terços, sendo maioritariamente do sexo feminino (63%). Numa ótica territorial, a região Norte foi a que registou mais óbitos por transtornos mentais e comportamentais (36%), seguindo-se a Área Metropolitana de Lisboa (26%) e o Centro (23%).
Ao JN, o presidente do Conselho Nacional de Saúde Mental, António Leuschner, pede cautela na leitura dos números. Em causa, explica, a classificação do óbito. Ou seja, num paciente com comorbilidades, não será a demência a provocar a morte, mas outra doença de que padecia, por exemplo, uma pneumonia.
Contudo, o que é facto, sublinha aquele psiquiatra, é que "cada vez há mais casos de demência no nosso país". Pela simples evidência que a base da pirâmide etária está cada vez mais estreita. Somos já o terceiro país mais envelhecido da União Europeia e as projeções do gabinete de estatística europeu para 2050 colocam-nos no topo.
Precisamente no ano em que, de acordo com o documento anteontem libertado pela Alzheimer Europe, 3,82% da população terá algum tipo de demência, contra os atuais 1,88% (cerca de 194 mil pessoas). Altura em que, nota aquela associação, a população portuguesa acima dos 85 anos mais do que duplicará. Pelas projeções do Eurostat, em 2050, cerca de 8,5% terá mais de 85 anos de idade.
Quanto à predominância nas mulheres, explica António Leuschner que "se o número de mulheres aos 80 anos é superior ao dos homens, é normal que seja superior, mas tal não significa que a incidência seja maior". Ao que se junta uma maior esperança de vida das mulheres.
A aposta tem que estar na prevenção, nomeadamente dos fatores de risco: diabetes e doenças cardio e cerebrovasculares.