A Linha SOS Pessoa Idosa registou, de maio de 2022 a maio de 2023, 1785 participações de casos de violência contra pessoas idosas. Os casos de negligência aumentaram 16% face ao período homólogo anterior. As baixas reformas, o decréscimo do poder de compra e as fracas condições de habitabilidade são algumas das causas apontadas para o aumento das situações de negligência para com os mais velhos, que é praticada principalmente por familiares das vítimas ou por cuidadores.
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Segundo os dados divulgados esta terça-feira, pela Fundação Bissaya Barreto, das denúncias de violência que chegaram à Linha SOS Pessoa Idosa no período de um ano, cerca de metade foram casos de negligência (48%), revelando um aumento significativo, de 16%, face ao ano anterior.
De acordo com a fundação, de maio de 2022 a maio de 2023, o serviço recebeu 1785 contactos telefónicos, e-mails e articulações interinstitucionais que resultaram na abertura de 251 processos de internos, dos quais 13 foram averiguados em conjunto com a Procuradoria-Geral Distrital de Coimbra. Além das denúncias, foram recebidos 301 pedidos de ajuda. Os dados são agora conhecidos na semana em que se assinalam os nove anos desde que a Linha SOS Pessoa Idosa foi criada.
800102100 - Linha SOS Pessoa Idosa recebeu 2203 pedidos de ajuda desde 2014
Marta Ferreira, assistente social desta linha de apoio, aponta como causas "as baixas reformas, a diminuição do poder de compra de bens essenciais à sobrevivência, as condições de habitabilidade precárias, cancelamento de serviços de apoio por impossibilidade de pagamento, entre outros fatores, que confluem num aumento das situações de pobreza e, concomitantemente, de negligência, nas camadas mais envelhecidas da população" .
Sem alimentação adequada
Citada na nota, a técnica esclarece ainda que nestes casos a negligência se manifesta ao não garantir alimentação adequada, não assegurar a higiene da pessoa idosa ou a toma da medicação de forma propositada. No caso dos lares, chegaram à linha de apoio situações de utentes sem alimentação adequada ao estado de saúde, a administração de dosagens elevadas de medicação "deixando os idosos mais prostrados" ou de idosos que dão entrada no hospital subnutridos, vindos de instituições.
Para Marta Ferreira, a auto negligência também se insere nestes casos e corresponde à incapacidade da pessoa idosa perceber que precisa de ajuda. A responsável pela linha sublinha que o serviço recebeu situações de negligência "sem intencionalidade, passiva, por desconhecimento sobre a forma correta de tratamento, por cansaço do cuidador ou por acentuadas dificuldades financeiras".
Mais de metade das denúncias de vítimas de violência registadas ao longo desse período são mulheres (62%), a maioria entre os 75 e os 84 anos (43%) e viúvas (51%). De forma geral residem com familiares ou cuidadores (49%) ou sozinhas (40%), e uma parte reduzida (11%) em instituições. A generalidade dos denunciados são familiares das vítimas (65%), maioritariamente os agressores são os filhos das vítimas (42%) e 38% são homens.
Os dados mostram ainda que existe violência psicológica em 29% das denúncias recolhidas, o que corresponde a um aumento de 3% face ao mesmo período homólogo anterior, a financeira e a física em 11% e o abandono em 6%.
Lisboa mantém-se como o distrito com maior número de casos reportados (27%), seguindo-se o de Coimbra (12%), de Setúbal (12%) e do Porto (10%).
Desde que foi criada em 2014, a Linha SOS Pessoa Idosa recebeu 2203 pedidos de ajuda que resultaram na abertura de 1848 processos internos e na realização de 3115 articulações com entidades que intervém na área da violência e do envelhecimento, como Segurança Social, IPSS, autarquias, unidades de saúde e forças de segurança.
A linha de atendimento telefónico é nacional e gratuita: através do número 800102100 pode aceder a um serviço de atendimento direto e personalizado e um serviço de mediação familiar. As denúncias podem também ser realizadas através do e-mail sospessoaidosa@fbb.pt.