Centenas de trabalhadores, de norte a sul do país, reuniram-se em protesto em frente à Assembleia da República no dia da aprovação final do Orçamento de Estado 2022. O protesto foi marcado pelas palavras de ordem dos trabalhadores ao Governo: pediam o "aumento dos salários e pensões" e são "contra o aumento do custo de vida e ataque aos direitos". Trabalhadores e sindicatos dizem que este orçamento não serve.
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Joaquim Marques trabalha na construção civil e esteve em frente ao Parlamento com os seus colegas para exigir um salário melhor. "Ganho o ordenado mínimo, 700 euros ao fim do mês. Gostava de ganhar mais e ter condições para trabalhar melhor." Com 60 anos de idade, Joaquim Marques confessa que o que ganha ao fim do mês, com o custo de vida atual, "não chega para nada."
É por essa razão que se juntou ao protesto dos sindicatos da função pública, que teve início em dois pontos de Lisboa com destino a Assembleia da República. Um dos grupos partiu do Rossio, que incluiu os sindicatos do Porto e de Lisboa, e outro da Estrela, que juntou sindicatos oriundos do resto do país.
Anabela Ribeiro, de 56 anos, trabalha numa Instituição Particular de Solidariedade Social (IPSS) e é dirigente sindical. Afirma que as medidas previstas pelo Governo não protegem os trabalhadores e tiram-lhes direitos. Isabel Sebastião, que trabalha com Anabela Ribeiro, refere que os direitos das mulheres no trabalho também não estão assegurados. "Somos muito mal pagas. E, por estarmos sempre a batalhar no mesmo, queríamos ao menos uma melhoria das condições de trabalho e que as horas de trabalho sejam iguais para homens e mulheres", afirma.
Além dos salários e dos direitos, o tema das reformas também esteve presente na manifestação.
Fernando Cal, de 56 anos, reformou-se antecipadamente da função pública. Vive com uma reforma de 900 euros e refere que, para muitos, a reforma só chega "até um quarto do mês". Juntou-se ao protesto em apoio não só dos colegas mas também do filho "que, tal como muitos jovens, não tem as condições apropriadas para trabalhar".
Proteger os trabalhadores
No seu discurso em frente à Assembleia da República, Isabel Camarinha, secretária-geral da CGTP, salientou que "o número de trabalhadores em situação de pobreza atingiu os 525 mil". Afirmou que mais de meio milhão de trabalhadores tem um rendimento inferior a 554 euros por mês, 40% dos jovens, que constituem a "geração mais qualificada de sempre", recebem 627 euros mensais e que 2,7 milhões de trabalhadores têm uma remuneração base inferior a mil euros.
Por isso, além de reclamar o aumento do salário mínimo nacional para os 800 euros, a CGTP exige a "defesa e melhoria dos serviços públicos e das funções sociais do Estado, na educação, na proteção social, na cultura, na justiça e na saúde."
"Faltaram medidas para o país"
Catarina Martins, coordenadora do Bloco de Esquerda, esteve presente no protesto por acreditar que "a política tem a obrigação de responder por quem trabalha." Explica que durante o debate na especialidade foram discutidos "estudos, projetos-piloto, relatórios" mas faltaram as medidas concretas para o país. "O Bloco de Esquerda está do lado de quem precisa de salários, para pagar as contas todos os meses", afirma.
Já Jerónimo de Sousa, secretário-geral do PCP, disse que o Orçamento de Estado não dá resposta ao aumento do custo de vida. "Os trabalhadores, os reformados, os jovens com vínculo no mercado são os que mais sofrem com este orçamento". Questionado sobre se esta aprovação foi uma derrota pessoal, o líder do PCP respondeu: "tendo estado aqui há quase quatro décadas, já conheci tudo e a conclusão que tiro sempre é que nunca perco a esperança que os trabalhadores consigam com a sua luta uma vida melhor."