Um momento decisivo da caminhada da democracia e do socialismo". Foi assim que o Jornal de Notícias viu, na sua edição de 3 de abril de 1976, a aprovação na véspera da Constituição da República Portuguesa, que contou com o "surpreendente" voto contra do CDS-PP. Facto que mereceu destaque na primeira página, por ter quebrado um clima de unanimidade.
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Aquela que ainda hoje é a Lei Fundamental em vigor em Portugal foi vista pelo então presidente da República, Francisco da Costa Gomes como "um marco fundamental da História iniciada a 25 de Abril de 1974", por ser a primeira Constituição do país feita com a "colaboração" dos portugueses, através dos seus representantes, ou seja, dos deputados.
"Foi a primeira vez que os portugueses tiveram o direito de participação na elaboração da Lei Fundamental. Só poderia haver uma Constituição autêntica pela voz do povo que, em liberdade, definiu os valores e princípios fundamentais", enfatizou o segundo presidente da República do pós-25 de Abril, que sucedeu ao general António de Spínola.
Costa Gomes falava no Parlamento, a 2 de abril de 1976, após a assinatura do decreto de promulgação da Constituição da República Portuguesa. Uma sessão iniciada com o hino nacional, tocado pela Banda da GNR e pela leitura do Preâmbulo.
Quarenta e sete anos depois, ainda é o preâmbulo que suscita as principais objeções dos centristas com um texto, constituído pelo Preâmbulo e por 296 artigos. Na altura, os 15 deputados do CDS-PP "surpreenderam muita gente, quando se levantaram para reprovar", escreveu o JN. "Esperava-se que ficassem pela abstenção", justificou.
Em causa, sobretudo um parágrafo do Preâmbulo, que ainda hoje o CDS-PP pretende alterar, junto com o PSD que, na altura, votou a favor, com PS, PCP, MDP e os sociais-democratas independentes: "A Assembleia Constituinte afirma a decisão do povo português de defender a independência nacional, de garantir os direitos fundamentais dos cidadãos, de estabelecer os princípios basilares da democracia, de assegurar o primado do Estado de Direito democrático e de abrir caminho para uma sociedade socialista, no respeito da vontade do povo português, tendo em vista a construção de um país mais livre, mais justo e mais fraterno".
"O CDS não violou uma única regra de comportamento democrático. Tem sido, em todas as suas facetas, um verdadeiro partido centrista", sentiu-se forçado a vincou então líder do partido, Diogo Freitas do Amaral.