O líder do Chega esteve este sábado no Mercado Municipal de Vila Real e ia aproveitar a campanha para fazer umas compras, mas a falta de recibo arruinou o negócio.
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Pelas 11.30 horas de um sábado, escassos eram os vendedores e os clientes no primeiro piso do Mercado Municipal de Vila Real. André Ventura chegou, falou aos jornalistas, e seguiu caminho, distribuindo cumprimentos pelos poucos com quem se cruzou. Além das habituais bancadas com flores, enchidos e peixe, o líder do Chega deparou-se com uma vendedora de quadros, desenhados à mão pela filha.
Ventura começou por elogiar o trabalho, e comentou que as obras de arte não são a sua praia, assumindo não ter jeito para pintar e desenhar. Depois desta troca de impressões, durante alguns segundos, enquanto observava os quadros, o presidente do Chega acedeu ao desafio da senhora de levar um dos quadros “lá para Lisboa”.
“Vou levar um destes”, afirmou Ventura, pegando numa ilustração da Câmara Municipal de Vila Real, o que foi considerado pela comitiva um bom presságio para as eleições autárquicas. O presidente do Chega tentou pagar com multibanco, mas a mulher disse que não tinha. De seguida, perguntou o valor para poder ir levantar dinheiro. “Ela queria 100 euros, mas eu vou deixar por 80”, indicou a vendedora.
Ao ouvir o valor, o líder do Chega respondeu que então teria “de ser depois”, pois não tinha tanto dinheiro consigo naquela altura. “Quando?”, inquiriu a mulher, com André Ventura a dizer que teria de ser “depois da campanha” e pedindo que guardasse o quadro.
Nesta altura, o dinheiro aparece de entre a comitiva e Ventura disse que, assim sendo, iria levar a ilustração, mas teria de ser passado um recibo, ao que a mulher respondeu que não podia passar. “Tem de ser com recibo, senão não pode ser”, afirmou, desistindo da compra.
O dirigente, que já trabalhou na Autoridade Tributária e Aduaneira, defendendo que as regras têm de ser “iguais para todos”. A vendedora ainda insistiu, mas a transação não foi concluída. “Lamento muito, mas não pode ser”, afirmou André Ventura, que seguiu com a visita, deixando os quadros no mesmo sítio.
Após a visita ao mercado, a comitiva seguiu e efetuou uma pequena arruada pelo centro da cidade, com cerca de 40 apoiantes. A chuva que começou a cair apressou o passo, mas o líder considerou um presságio para uma “campanha abençoada”. Também a cabeça de lista do Chega por Vila Real, Manuela Tender (ex-PSD), viu na chuva um “bom prenúncio” para o partido ter “um excelente resultado” nas legislativas deste ano.
Nova ação de campanha, novo protesto
O sétimo dia da campanha do Chega para as eleições legislativas arrancou com uma visita ao Mercado Municipal de Vila Real, seguido de uma pequena arruada na cidade, ao final da manhã. À semelhança do que aconteceu nos últimos dias, a comitiva do Chega deparou-se com um novo protesto de um homem da comunidade cigana que se colocou junto aos apoiantes do partido, gritando a um megafone, ainda antes de André Ventura chegar ao local.
Ao contrário do que aconteceu em Aveiro, Braga e Viana do Castelo, o presidente do Chega não respondeu diretamente ao manifestante. Em declarações aos jornalistas, à chegada ao mercado, disse que tem recebido “um número inqualificável de ameaças”.
“O que temos recebido nos últimos dias no Chega é inqualificável. De pessoas a dizer que me vão matar, que vão fazer tudo para me eliminar fisicamente, que vão acabar connosco, que nos vão perseguir. E o país preocupa-se que os ciganos estejam ofendidos por eu dizer que eles têm de trabalhar e que têm de cumprir regras”, afirmou, numa alusão a uma notícia do semanário Expresso que refere que associações de ciganos processaram-no por "discurso de ódio".
O líder do Chega defendeu que estas associações devem “apelar aos ciganos todos que parem com este espetáculo degradante”.
"Eu não vou mudar um milímetro"
André Ventura afirmou que não vai alterar a campanha nem reforçou a sua segurança pessoal, reiterando que “não tem medo” nem aceita “que nenhum grupo, minoria, étnica ou outra, [o] impeça de fazer campanha política”.
O presidente do Chega indicou também que não conta apresentar queixa por essas ameaças, pois não quer “entupir a justiça” nem “fazer dos tribunais a nova forma de ação política”.
Questionado se reforçou a sua segurança pessoal privada, Ventura disse que “está exatamente como estava”. “Eu não vou mudar um milímetro da minha vida por causa dos ciganos”, salientou.
Depois de na sexta-feira à noite ter pedido à ministra da Administração Interna para estar atenta e que todos sejam tratados por igual, hoje afirmou que “o Chega não pede especial atenção nunca para si próprio”, mas considerou que, se estas situações continuarem, o Governo “está a arriscar criar uma situação política explosiva”.
Ventura disse também que todas as ações de campanha são articuladas com as autoridades e que não foi avisado de um reforço de segurança. A arruada foi acompanhada por agentes da PSP fardados e à paisana.
Ciganos “querem trabalhar”, mas “não têm oportunidades”
O manifestante, Serafim dos Anjos, queixou-se de discriminação, sustentando que os ciganos “querem trabalhar”, mas “não têm oportunidades”, e pediu: “deixem de ser racistas”. Aos jornalistas, o homem disse que soube desta iniciativa pelas redes sociais e que os protestos dos últimos dias não o inspiraram a estar ali.
Do outro lado, os apoiantes do Chega gritavam: “ide trabalhar” e “deixar de viver de subsídios”. Telmo Resende, empresário local de construção civil, interpelou este homem, dizendo que arranjaria trabalho “para quatro ou cinco”, e pediu que se apresentassem na segunda-feira. “Só espero que cumpram”, pediu Serafim dos Anjos, que fundou a Associação Nacional e Social de Etnia Cigana, e que foi condenado em 2022 por tráfico de droga, com pena suspensa.
André Ventura foi questionado também sobre as críticas do líder do PSD no dia anterior, que acusou deputados e dirigentes do Chega de espalharem desinformação, e considerou que isso “é curioso”, vindo de um “primeiro-ministro que mais não tem feito do que desinformar os portugueses sobre a obra que fez”.
“É o mesmo primeiro-ministro que chamou as televisões com a mulher para fazer uma ação política”, afirmou, sem querer comentar o facto de Luís Montenegro ter ido cumprimentar a sua mulher em peregrinação a Fátima, acompanhado pelas televisões.