Dar voz a quem dela necessita é o ADN do JN, e este ano não foi exceção. As notícias valem mais quando ajudam a fintar o destino.
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A proximidade com os leitores - o ADN de sempre do JN - voltou a ser um trunfo em 2023. Com notícias e reportagens fomos ao encontro de quem mais necessitava e despertámos ondas de solidariedade que permitiram fintar destinos que se afiguravam sinuosos. Estas são as algumas histórias.
1 - Vila do conde
Conseguiu verbas para terapias
Foi nos segundos de um último mergulho de férias, em 2021, que a vida de Ricardo Ferreira mudou para sempre: bateu com a cabeça no fundo de uma piscina, em Vila do Conde, e fraturou as vértebras cervicais C4 e C5, lesionando a medula. O diagnóstico afogou-o no desespero: estava tetraplégico. Uma cirurgia devolveu-lhe 50% dos movimentos nos braços, e o antigo jogador de futebol, de 44 anos, luta agora para recuperar mais mobilidade, através de dispendiosas sessões de fisioterapia intensiva. As despesas com estas terapias ascendem a “cerca de 2500 euros por mês”, contabiliza a mulher, Luísa Ferreira, e a família, que vive em Fajozes, lançou, com o apoio de amigos, uma campanha solidária para fazer face aos elevados custos. Em julho, o JN contou a história de Ricardo, que teve a solidariedade dos que contribuíram com donativos para a conta indicada na página de Facebook “Ricardo Ferreira - Amigos solidários”.
2 - Odivelas
Ana Rita obteve fármaco caro
Em 2022, “o mundo desabou” para a enfermeira Ana Rita Campos, ao descobrir, com 41 anos e a amamentar a filha, que tinha um cancro da mama bilateral e invasivo. O diagnóstico seria ainda mais devastador, ao indicar o comprometimento de gânglios linfáticos e de tecidos exteriores aos gânglios, aumentando o risco de metástases e a probabilidade de voltar a ter cancro, mas agora num órgão vital. Para tentar prevenir o reaparecimento da doença, a única esperança dada pela medicina era o fármaco Abemaciclib, com um custo de 3500 euros por mês ao longo de dois anos, uma verba incomportável para a família de Odivelas, que em abril lançou uma campanha de angariação dos 84 mil euros. O JN divulgou o apelo e, em maio, Ana Rita conseguiu iniciar o tratamento.
3- Vila Nova de Gaia
Abriram oficina para ajudar Filipe
O JN noticiou, em fevereiro, o apelo que a família de Filipe (“Pipinho”) lançou para tentar encontrar um espaço, cedido gratuitamente, onde pudesse fazer o trabalho artesanal solidário que ajuda a pagar as terapias intensivas do rapaz, e a resposta não se fez esperar. Em pouco tempo, os donos de uma sala em plena Avenida da República, em Gaia, ofereceram-se para cedê-la sem qualquer custo, num ato de solidariedade que permitiu a Mara e a Daniela Ferreira, mãe e irmã de Filipe - ou Pipinho, como é conhecido o rapaz de 18 anos, de Avintes, que tem uma doença genética rara e não anda, não fala nem vê -, montar uma oficina. As vendas dos artigos que mãe e filha produzem ajudam a pagar os cerca de dois mil euros por mês pelas terapias intensivas que o jovem faz, um valor impossível para uma família que vive com pouco mais do que um ordenado mínimo.
4 - Matosinhos
Maria e as filhas foram realojadas
O calvário que Maria - o nome é fictício, por ser vítima de violência doméstica - e as filhas de dois e quatro anos viviam numa casa insalubre, em Perafita, Matosinhos, foi narrado pelo JN no final de outubro e, algumas semanas depois, resolveram-se os percalços que faziam arrastar o processo de atribuição de uma habitação social à família. No início de novembro, as três puderam mudar-se para uma nova casa, noutro concelho e com condições de habitabilidade, deixando para trás, com grande alívio, a morada que se transformou num "buraco de bicho, sem condições para se viver", onde os tetos caíam, havia infiltrações de água - inclusive junto a interruptores elétricos - e rastejantes por todo o lado.
5- Oeiras
Nuno conseguiu casa adaptada
Foi nas grandes cheias na zona de Lisboa, em dezembro de 2022 , que Nuno Sobral, um ex-fuzileiro, que ficou paraplégico após um acidente, fintou a morte. Estava sozinho com o cão na sua casa em Algés, Oeiras, quando, em minutos, viu a água invadir-lhe a habitação e destruir tudo o que tinha. Apesar das suas limitações, a sua primeira preocupação foi salvar o animal, soltando-o. Depois teve de lutar pela sobrevivência, largando a cadeira de rodas no piso térreo e subindo, só pela força dos braços, até ao primeiro andar. Um esforço heroico, que lhe valeu a vida mas o deixou sem nenhum dos seus pertences. O JN foi um dos que lhe deram voz, contando a sua história de coragem e bravura, que terá impressionado populares e entidades oficiais. Foi assim que, já em 2023, recebeu da autarquia oeirense uma casa totalmente adaptada, que lhe permitiu recuperar a qualidade de vida.
6 - Guimarães
Sofia conquista mobilidade
Sofia Monteiro é uma menina de cinco anos com paralisia cerebral, fruto de um parto que demorou mais do que seria normal. Em maio, o JN deu o tiro de partida para uma recolha de fundos do movimento cívico “Servir sem Olhar”, com vista a ajudar a família de Guimarães a adquirir uma carrinha adaptada para transportar a menina. O objetivo inicial era reunir 14 mil euros para comprar um carro usado, contudo, a 17 de setembro, os donativos já ascendiam a 28 mil euros. Isto permitiu entregar uma viatura em melhores condições à família, pagar um ano de seguro e ainda sobrou algum dinheiro para ajudar a custear as diversas terapias.
7 - Braga
Protesto de pais garante solução
No final de julho, um grupo de pais de crianças com necessidades específicas do concelho de Braga queixava-se da falta de respostas para deixar os filhos nas chamadas pausas letivas, o período antes ou depois das aulas. Na edição de 28 de julho, o JN deu voz às preocupações destes progenitores, que desesperavam por não saberem mais a quem recorrer. Alguns deles admitiam pedir baixa médica ou até deixar de trabalhar, assim que começasse o ano letivo, para poderem ficar com os filhos. Dias depois de as reivindicações terem sido tornadas públicas, a 1 de agosto, a Câmara de Braga anunciou que iria implementar um programa ocupacional destinado a estas crianças e jovens.
8 - Odivelas
Atleta paralímpico ganha nova casa
O atleta paralímpico Rafael Neto, com 19 anos, e a sua família (mãe e pai), receberam uma nova casa dias depois de contarem ao JN que iam ser despejados da casa onde viviam em Lisboa. O caso aconteceu em fevereiro passado. A família tinha até ao final do mês para sair da casa arrendada na Ajuda, em Lisboa, onde vivia há 14 anos. A habitação tinha sido vendida e a nova proprietária iria realizar obras para lá residir a partir do início de março. A poucos dias do final do mês, o atleta recebeu a notícia por que tanto ansiava: uma nova casa disponível. Trata-se de um T2 na Pontinha, concelho de Odivelas, o que satisfaz as necessidades da família em estar em Lisboa, visto que o atleta treina duas vezes por dia na capital e não podia residir longe.
9- Azambuja
Cega comprou equipamentos
Paula Cristina Oliveira, uma mulher de Aveiras de Cima, Azambuja, que há sete anos cegou na sequência de complicações devido à diabetes, lançou uma campanha de angariação de fundos para adquirir equipamentos adaptados e ser autónoma. Quando o JN contou a história, pedia 6500 euros para comprar uma bengala, um medidor de glicose com voz, uma pulseira detetora de obstáculos (Sunu band), telemóvel adaptado, entre outros equipamentos, mas estava longe de conseguir a verba, pois reunira apenas poucas centenas de euros. “A notícia ajudou muito”, disse Paula Cristina Oliveira, adiantando que as contribuições aumentaram substancialmente e conseguiu reunir 4524 euros. Entretanto lançou outra campanha, no GoFundMe, intitulada “Ajude-me a ser autónoma”, para conseguir o valor em falta.