As condições do "diálogo à Esquerda" dos últimos quatro anos no Parlamento são para manter, garante o número dois do Governo, Augusto Santos Silva. Mas é importante que ninguém tenha uma "força desmedida" e uma "influência desmesurada" que possa pôr em causa a estabilidade. O PS está preocupado com o crescimento do BE que as sondagens antecipam.
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O cabeça de lista do PS pelo círculo Fora da Europa apareceu, este domingo, pela primeira vez na campanha e, num discurso num almoço num pavilhão desportivo na Senhora da Hora, em Matosinhos, alertou para os riscos do crescimento do BE, embora não tenha citado o nome dos parceiros de viagem dos últimos quatro anos.
"Aqueles que ainda hoje hesitam sobre se Portugal deve ou não pertencer à União Europeia, se deve ou não pertencer à zona Euro, aqueles que ainda hoje sugerem que o melhor que Portugal tinha era pôr em dúvida as suas condições de respeito pela dívida e pelo pagamento da dívida e que querem fazer propor que Portugal gaste 30 mil milhões de euros para nacionalizar empresas, esses não podem ter um poder desmedido, não podem ter uma influência desmesurada na próxima legislatura", disse Santos Silva, um aviso que vai certeiro para o crescimento do Bloco de Esquerda que as sondagens antecipam.
O também ministro dos Negócios Estrangeiros lembrou que, há quatro anos, António Costa "quebrou uma barreira que tolhia e diminuía a democracia portuguesa", a "célebre e estúpida teoria do arco da governação", segundo a qual havia um conjunto de votos que não serviam para influenciar a governação. "Esse muro está derrubado e ninguém o vai reerguer", garantiu Santos Silva, garantindo que, caso ganhe as eleições, o PS quer "continuar o mesmo diálogo" que teve na legislatura que agora termina, "um diálogo à Esquerda que garanta, no Parlamento, as condições mais amplas de apoio a políticas progressistas".
"Quem lidera é o PS"
Contudo, deixa um alerta: "para que isso seja possível é essencial a força do PS, é essencial a estabilidade política", disse, voltando a acenar com a instabilidade que se tem vivido em Espanha. "Basta aliás olhar para a nossa vizinha Espanha para perceber que, quando os socialistas não têm a força necessária, quando as forças que têm dúvidas em relação à moderação, em relação ao equilíbrio e à Europa, tem uma força desmedida, não há estabilidade politica" e a vida torna-se "mais difícil para as pessoas".
"É preciso que seja claro que é o PS que lidera, que o Governo é do PS e que a política é do PS", disse, insistindo numa tecla que tem sido batida, todos os dias, pelo secretário geral do PS, António Costa.
Rio atira instituições para a "lama"
Santos Silva não deixou, contudo, de lado, o tema Tancos, e atirou-se a Rui Rio e Assunção Cristas.
"Nós não queremos trazer as instituições da República portuguesa para a lama onde elas nunca estiveram, não estão e com o PS nunca estarão", disse. "Nós sabemos que a justiça e a política são domínios diferentes, sabemos que as Forças Armadas são uma instituição representativa de todo o país. Nós sabemos que as questões judiciais resolvem-se nos tribunais e as políticas tratam-se no Parlamento", disse, criticando a degradação da linguagem política. "Há um nível de ataque, de calúnia, de ofensa pessoal que degrada a democracia e o voto do PS será também o voto contra esse degradação da democracia", disse.
Quanto à líder do CDS, Assunção Cristas - que o PS até agora tinha ignorado quanto à iniciativa de querer que as declarações do primeiro-ministro no inquérito a Tancos sejam enviadas para o Ministétio Público - foi acusada de "querer afundar o nível do debate político democrático em Portugal", mas antevê que quem se vai "afundar é ela própria no sufrágio dos portugueses". Para Rui Rio, Santos Silva tinha outras palavras: voltou a ser acusado de dizer uma coisa e fazer outra, pelo que o PS questiona a "volubilidade desta conduta política".