A presidência egípcia da 27.ª Conferência das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas (COP27) publicou, esta quinta-feira, um primeiro esboço da decisão final enquadradora da cimeira, isto é, aquilo que deverá ser o resultado das negociações que decorreram nas últimas duas semanas.
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A um dia da cimeira encerrar, o documento de 20 páginas não incluía ainda os pontos de situação de áreas chave, como as metas de mitigação para limitar o aquecimento global abaixo dos 2.ºC, de preferência nos 1,5ºC, e a criação do mecanismo para "perdas e danos" de apoio aos países mais vulneráveis para lidarem com fenómenos climáticos extremos.
António Guterres, secretário-geral das Nações Unidas (ONU) dirigiu-se aos delegados e falou num "momento crítico das negociações". O presidente da COP27 e ministro dos Negócios Estrangeiros do Egito, Sameh Shoukry, pediu que os países chegassem com urgência às conclusões necessárias.
"O mundo espera que demonstremos a seriedade com que lidamos com este assunto e, como comunidade das nações, devemos corresponder às suas expectativas", reiterou, numa altura em que os líderes e governantes mundiais previam que os trabalhos se prolongassem noite dentro, enquanto uns bloqueavam e outros lutavam para chegar a acordos. Tudo aponta que a cimeira se possa prolongar até ao fim de semana.
No documento repete-se o objetivo que saiu da conferência do ano passado, em Glasgow, de acelerar a redução da energia dependente do carvão e acabar com os subsídios aos combustíveis fósseis. Continuando a faltar o compromisso do fim gradual do uso de todos, inclusive o petróleo e o gás, como exigiram a Índia e a União Europeia (UE).
O clima na cimeira é de descrença. Com as partes divididas sobre o financiamento para "perdas e danos" - um dos temas mais sensíveis em cima da mesa -, a presidência da COP27 saudou, no papel, apenas o facto de, pela primeira vez, os países terem concordado que o tema fizesse parte da agenda da cúpula.
Detalhes podem ficar para 2023
Durante o dia, o conjunto de países em desenvolvimento (G77, mais a China) propôs que se criasse o fundo ainda nesta COP, deixando os detalhes para as próximas negociações da ONU que vão decorrer no Dubai, entre 6 e 17 de novembro de 2023. "Creio que será uma jornada bastante longa e difícil até ao fim deste processo. Ainda não tenho certeza onde estas negociações vão parar", reagiu o vice-presidente da Comissão Europeia, Frans Timmermans. "Se esta COP falhar perdemos todos", alertou.
À pressão feita pelos países em desenvolvimento juntou-se o secretário-geral das Nações Unidas. "Há claramente uma quebra de confiança entre o Norte e o Sul e entre as economias desenvolvidas e emergentes. Não é hora de apontar o dedo. O "jogo da culpa" é uma receita para a destruição mútua garantida", afirmou, vindo da cimeira do G20.
Guterres apelou aos dirigentes mundiais que, além de encontrarem "um acordo ambicioso e fiável" para apoiar os países mais afetados pelas alterações climáticas, cheguem a um consenso quanto à necessidade de disponibilizarem, a partir de 2025, a verba de 100 mil milhões de dólares por ano em financiamento climático para as nações em desenvolvimento. "O relógio do clima está a contar e a confiança continua a desgastar-se", instou.