Discutir doutoramentos nos politécnicos é uma "perda de tempo", dizem reitores
CRUP arrasa, no Parlamento, projetos do PCP e do BE e Iniciativa de Cidadãos. António de Sousa Pereira diz que não resolvem nenhum dos problemas do Ensino Superior.
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"Esta alteração legislativa não serve para nada. É uma perda de tempo quando temos problemas críticos para resolver no Ensino Superior". Sem surpresa, o presidente do Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas (CRUP) reprovou, desta forma e em toda a linha, os projetos de lei do PCP e do BE e uma Iniciativa Legislativa de Cidadãos para que os institutos politécnicos possam ministrar doutoramentos, nesta terça-feira em análise na Comissão de Educação e Ciência. Possibilidade essa prevista desde 2018, quando o anterior Governo alterou o regime de graus e diplomas, mas que o então ministro Manuel Heitor deixou na gaveta. A Iniciativa de Cidadãos defende, ainda, que aquelas instituições passem a designar-se universidades politécnicas. "Não estou a ver o Massachusetts Institute of Technology (MIT) a querer mudar para Massachusetts University of Technology", disparou o também reitor da Universidade do Porto, para quem o "prestígio de uma instituição não depende de ter o estatuto de universidade".
Ladeado dos reitores das universidades de Coimbra, Minho, Algarve e do ISCTE, António de Sousa Pereira elencou uma série de problemas que o Superior enfrenta - melhoria na qualidade do sistema e da oferta, reforço do financiamento e autonomia, espaços de colaboração entre instituições, reforço do apoio social ou o acesso dos diplomados das vias profissionalizantes, entre outros - para explicar por que razão pôr em causa, volvidos 50 anos, o sistema binário não faz sentido. Citando por diversas vezes relatórios da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento, e lembrando Mariano Gago, o presidente do CRUP alertou que as alterações em análise "estilhaçam o sistema binário, contribuindo para a uniformização do sistema e não para a sua diversificação". Naquilo que considera ser um "reforço do isomorfismo", podendo até levar ao "abandono dos politécnicos de algumas das suas missões". Além de que, reafirmou, num "país com a dimensão de Portugal passarem a existir três dezenas de instituições universitárias", numa "operação de cosmética", seria "induzir em erro estudantes, pais e empregadores", criando "universidades de primeira e de segunda".