O enfermeiro Duarte Gil Barbosa, do Hospital de S. João, no Porto, anunciou que vai iniciar uma greve de fome a partir de sexta-feira, dia 22 de fevereiro, frente à Assembleia da República. O protesto pretende chamar à atenção para a forma como o Governo está a gerir o conflito com estes profissionais
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Em declarações ao JN, Duarte Gil Barbosa revelou que se trata de um "grito de exaustão e de revolta" por toda a situação que tem vindo a ocorrer com os enfermeiros. O gesto também pretende demonstrar solidariedade para com Carlos Ramalho, presidente do Sindicato Democrático dos Enfermeiros de Portugal (Sindepor), que está em greve de fome desde esta quarta feira frente ao Palácio de Belém.
"Não faz muito sentido atacarem os enfermeiros como têm atacado", frisou, acrescentando que apela ao Governo e ao Ministério da Saúde para reconsiderarem a posição e retomarem as conversações com os enfermeiros.
A possibilidade de marcação de faltas injustificadas durante a greve cirúrgica e o desconto nos salários dos dias em que não fizeram greve são dois dos motivos que o levaram a tomar esta posição.
"Nós não conseguimos nada. A nossa principal reivindicação era termos uma carreira digna, como a dos outros licenciados. E sermos pagos de acordo com ela", explicou, lembrando que um nutricionista no início de carreira no Serviço Nacional de Saúde tem um salário de 1600 euros brutos. O mesmo valor que os enfermeiros reivindicam e estão dispostos a negociar.
"Sou enfermeiro há 23 anos, sempre fui avaliado e tiro mil euros ao fim do mês", contou. Na sua situação há "quase 15 mil enfermeiros".
Assegurando que não está inscrito em nenhum sindicato, Duarte Gil Barbosa sublinhou que a "revolta é tal" que há colegas que não afastam a hipótese de abandonarem os serviços se a tutela continuar sem atender à situação dos enfermeiros.
O profissional criticou ainda o Sistema Integrado de Gestão de Inscritos para Cirurgia (SIGIC), destinado a reduzir as listas de espera das operações, de mover "move muito mais dinheiro do que as parcerias público privadas".
Duarte Gil Barbosa vai estar em greve de fome entre as 12 horas de sexta-feira e as 12 horas de domingo. No final desse dia entra ao serviço na unidade de recobro do S. João. "Não me posso dar ao luxo de estar sem trabalhar", desabafou.