Terapia revolucionária usa células CAR-T e chega em breve ao IPO do Porto. Será a mais cara de sempre na área oncológica.
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Os tratamentos com células CAR-T estão a chegar a Portugal. São o maior avanço dos últimos tempos nalguns cancros de sangue de adultos e crianças. Após ensaios clínicos promissores, começam a ser autorizados nalguns países europeus e Portugal não vai ficar de fora. Cada tratamento custa 400 mil euros.
O Instituto Português de Oncologia (IPO) do Porto já foi reconhecido pela farmacêutica Gilead como centro com qualidade para administrar a terapêutica. Falta apenas autorização da Direção-Geral da Saúde, o que deverá acontecer muito em breve. Os primeiros doentes devem começar a ser selecionados no próximo mês.
A terapia CAR-T passa pela manipulação genética das células do sistema imunitário do doente para que consigam detetar e matar as células cancerígenas. "É o pináculo das terapias personalizadas", realça Laranja Pontes, presidente do IPO do Porto, orgulhoso por ver a instituição na linha da frente da inovação. Em 2018, o tratamento foi considerado o avanço do ano pela Sociedade Americana de Oncologia Clínica.
Neste momento há duas terapias CAR-T com Autorização de Introdução no Mercado (AIM), segundo o Infarmed. A do laboratório Gilead, que tem indicação terapêutica para três subtipos de linfomas, e a da Novartis, indicada para um subtipo de linfoma e para a leucemia linfoblástica, que afeta principalmente crianças e jovens.
50% sem doença visível
As estimativas indicam que anualmente há 60 a 70 doentes adultos (linfomas) e cinco crianças e jovens até aos 25 anos (leucemia linfoblástica) com critérios para estes tratamentos que, por agora, só serão aplicados em terceira linha, quando as quimioterapias, os transplantes de medula e outras terapêuticas não resultam.
Os ensaios clínicos estão a atingir os dois anos e "os resultados são promissores", assegura José Mariz, diretor do serviço de Hematologia do IPO do Porto. Cerca de 80% dos doentes respondem positivamente ao tratamento e em cerca de 50% a doença fica indetetável nos exames. Não significa que não volte a surgir, frisa o especialista, com a prudência de quem já viu as células tumorais ganharem muitas guerras. Para já sabe-se que ao fim de dois anos 35% dos doentes estão vivos. "Estamos a falar de pessoas com uma esperança de vida de seis meses", diz José Mariz. Cauteloso para não criar falsas expectativas em doentes e familiares, o médico frisa que estes tratamentos "não são a solução para todos os casos", mas admite que são "uma arma terapêutica importante" que "seguramente veio para ficar e que terá várias evoluções" nos próximos anos. Há ensaios clínicos em curso para introduzir a terapêutica em fases mais precoces, há também experiências com tumores sólidos e investigação idêntica com células de dador.
O IPO do Porto será o primeiro hospital a receber este tratamento porque já criou as condições necessárias e foi autorizado pela Gilead, mas o IPO de Lisboa também está na corrida, confirmou o Infarmed ao JN. No Porto, foi criado um quarto específico junto à Unidade de Cuidados Intensivos para uso exclusivo destes doentes, adquirido um tanque de azoto gasoso para guardar as células criopreservadas e implementado um sistema de codificação internacional que permite acompanhar a amostra em todo o circuito internacional, explicou Susana Roncon, diretora do Serviço de Terapia Celular.