Esmagadora maioria aguarda por um rim. Cirurgias no primeiro semestre caíram face a 2021 e 2019, mas aumentaram quando comparados com 2020.
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Há 2281 doentes em lista de espera para receber um transplante. A esmagadora maioria aguarda por um rim, mas há ainda quem precise de um coração, de um fígado, de um pulmão e de um pâncreas. Os dados, cedidos ao JN pelo Instituto Português do Sangue e da Transplantação (IPST), referem-se ao primeiro semestre deste ano. Nestes seis meses, foram realizados 365 transplantes. Menos cinco face ao período homólogo do ano passado e mais 50 do que em 2020. Há, porém, uma quebra de transplantes realizados, quando comparado com o primeiro semestre de 2019. Já os dadores aumentaram face a 2021, mas o número de órgãos colhidos caiu.
De acordo com o IPST, entre janeiro e junho deste ano, foram colhidos 398 órgãos num total de 177 dadores. São menos 30 órgãos colhidos e mais 15 dadores face ao mesmo período de tempo de 2021. Os dados mostram ainda que, no primeiro semestre deste ano, realizaram-se menos cinco transplantes do que no período homólogo do ano passado. Os transplantes cardíaco (17), hepático (87) e pancreático (2) contribuíram para essa diminuição. Já os transplantes de rins (223) e de pulmões (36) aumentaram face ao primeiro semestre do ano passado.
Em contrapartida, houve uma subida no número de transplantes face a 2020, ou seja, o primeiro ano da pandemia. Em relação a 2019, o período pré-pandémico, regista-se uma quebra de 73 transplantes.
30 mil quilómetros
Neste meio ano, o transporte de órgãos levou os militares da GNR e a Força Aérea Portuguesa a percorrer mais de 30 mil quilómetros de carro e realizar cerca de 13 horas de voo. No total, foram transportados 141 órgãos numa missão em que "cada minuto conta" para salvar uma vida.
Dos 141 transportes registados entre janeiro e junho deste ano, a maioria foi efetuada pela GNR: 268 militares percorreram 30 324 quilómetros para transportar 134 órgãos. Entre os distritos com mais transportes, destacam-se Lisboa, Setúbal, Coimbra e Viseu.
"Após o contacto da unidade de saúde que detém o órgão a ser transportado, a GNR mobiliza, de imediato, uma patrulha de trânsito que fará o transporte até ao bloco operatório da unidade hospitalar requisitante, no mais curto espaço de tempo", detalhou a GNR, acrescentando que esta "missão" é desempenhada pelos seus militares desde 1994.
Desde 2008, a GNR realizou 3249 transportes e percorreu mais de 645 mil quilómetros. "A qualidade e segurança da transplantação de órgãos depende do tempo necessário para o seu transporte, competindo à GNR chegar ao destino no menor tempo possível", frisou em resposta ao JN.
Esta missão compete, também, à Força Aérea Portuguesa que, neste primeiro semestre, já transportou sete órgãos entre unidades de saúde. Para tal, foram realizadas 13 horas e 10 minutos de voos com recurso às aeronaves Falcon 50 e C-295M. Comparativamente com períodos homólogos, trata-se do menor número de órgãos transportados. Entre janeiro e junho do ano passado, a Força Aérea transportou 14 órgãos.
Falta de profissionais
No entanto, a Sociedade Portuguesa de Transplantação está preocupada com a escassez de recursos humanos na Saúde e como essa falta de profissionais pode condicionar a realização de transplantes.
"Devemos explicar a importância da colheita e da transplantação de órgãos na sociedade, apelar e enaltecer o altruísmo da dádiva em vida e promover e acarinhar os profissionais envolvidos nesta atividade, frisando a necessidade de lhes conceder boas condições para o exercício desta tão nobre área da medicina", refere Cristina Jorge.
1943 à espera de rim
Neste primeiro semestre, o Registo Português de Transplantação possui 1943 doentes à espera de rim, 156 aguardam por um fígado, 92 necessitam de um pulmão, 55 precisam de pâncreas e 35 do transplante de coração. O transplante que mais se faz em Portugal é o renal.
País com mais dadores
Segundo o IPST, Portugal é "o quarto país europeu com maior número de dadores falecidos". No primeiro semestre de 2022, houve 177 dadores e 398 órgãos colhidos. Entre janeiro e junho de 2021, foram colhidos 428 órgãos de 162 dadores. Em igual período de 2019, tinham sido colhidos 479 órgãos de 208 dadores.