Depois do coro de críticas da Esquerda à Direita, o presidente da República clarificou as suas declarações, feitas esta terça-feira à tarde, sobre o facto de o número de 424 queixas de abusos sexuais não ser "particularmente elevado". Numa nota publicada já depois das 20 horas no site da Presidência da República, defendeu que "infelizmente" a realidade deve ser superior e que espera que os casos "possam ser rapidamente traduzidos em Justiça".
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"O Presidente da República sublinha, mais uma vez, a importância dos trabalhos desta Comissão, muito embora lamente que não lhe tenham sido efetuados mais testemunhos, pois este número não parece particularmente elevado face à provável triste realidade, quer em Portugal, quer pelo Mundo. Vários relatos falam em números muito superiores em vários países, e infelizmente terá havido também números muito superiores em Portugal", lê-se na nota publicada esta noite.
À tarde, quando questionado pelos jornalistas, Marcelo Rebelo de Sousa afirmou não estar surpreendido com o número de 424 queixas validadas pela Comissão Independente para o Estudo dos Abusos de Menores na Igreja (CIEAMI).
"Haver 400 casos não me parece particularmente elevado porque noutros países com horizontes [temporais de investigação] mais pequenos houve milhares de casos", referiu o presidente da República, frisando que estamos perante um "universo de milhões" que contactaram com a instituição ao longo de sete, oito ou nove décadas. O coro de críticas não tardou.
PS , IL, Chega, BE, PAN e Livre condenaram as declarações de Marcelo sobre o número de queixas não ser "elevado". "O presidente mostra estar mais preocupado em ilibar e relativizar a gravidade do comportamento de vários elementos da Igreja Católica do que com as vítimas", escreveram os liberais na sua página. No Twitter, o líder da bancada do BE, Pedro Filipe Soares considerou a frase "um insulto". "É incompreensível a desvalorização", escreveu Inês Sousa Real, do PAN. André Ventura classificou as declarações de "infelizes" e a deputada do PS, Isabel Moreira, de "inaceitável". Para Rui Tavares, do Livre, podem "desencorajar quem ainda procura forças para falar".
A nota publicada no site de Belém diz que "o Presidente da República espera que os casos possam ser rapidamente traduzidos em Justiça. Tal como fez no início de setembro, transmitindo imediatamente à PGR a denúncia que recebeu, continuará a promover e apoiar todos os esforços para que os abusadores sejam responsabilizados e afastados de qualquer situação que possa permitir a reincidência nestes comportamentos, seja no seio da Igreja Católica, ou em qualquer outra situação", lê-se na nota da Presidência.