Apenas 2,9% dos portugueses tem imunidade ao vírus SARS-CoV-2. O primeiro estudo nacional à covid-19 conclui que Portugal está longe da imunidade de grupo, segundo dados conhecidos esta sexta-feira do inquérito serológico do Instituto Nacional Dr. Ricardo Jorge (INSA).
O INSA não encontrou "diferenças significativas" entre regiões e faixas etárias. Os dados referem-se a um espaço temporal entre março e julho deste ano, numa amostra de 2301 pessoas, e não estão longe dos resultados alcançados noutros países - Espanha, com piores números da covid-19, registou 5% de imunidade na população, Holanda teve 3,2% e Dinamarca obteve 1,9%. Com uma seroprevalência de 2,9%, com base em dados da Pordata do total da população portuguesa (10 256 627), é possível que concluir que cerca de 297 mil pessoas desenvolveram anticorpos ao novo coronavírus. Portugal está ainda longe da imunidade de grupo, para tal teria de ter uma percentagem entre 45 e 70%, embora existam vários modelos matemáticos para calcular este número.
Apesar de o estudo visar "determinar e comparar a seroprevalência de anticorpos específicos contra SARS-CoV-2", os especialistas do Instituto Nacional Dr. Ricardo Jorge procuraram conhecer "a fração de infeções assintomáticas", concluindo, de acordo com os dados reportados às autoridades de saúde, que há uma "sub-captação de casos ligeiros ou assintomáticos pelos sistemas de vigilância". Cerca de 44% das pessoas com anticorpos não referiram qualquer sintoma da covid-19.
Com poucas diferenças entre grupos etários e regiões, há, no entanto, distinções a registar. Nas idades, a única variação a registar pela INSA é a de 2,2% entre os 10 e os 19 anos e os 3,2% entre os 40 e os 59 anos. Já no país, o Alentejo apresenta, por exemplo, uma seroprevalência de 1,2%, enquanto Lisboa e Vale do Tejo regista 3,5%. Os homens têm uma percentagem ligeiramente mais elevada que as mulheres (4,1% contra 1,8%).
As pessoas que disseram ter estado em contacto com um caso suspeito ou confirmado de covid-19 registam uma seroprevalência mais elevada (22,3% contra 2%). Também as pessoas com sintomas compatíveis com a doença do novo coronavírus (febre, tosse, arrepios, etc) tiveram um número superior às que disseram não ter este tipo de sintomas (6,5% contra 2,0%).
Quanto ao nível de escolaridade, a seroprevalência é superior nas pessoas que completaram o ensino secundário (6,4%) face aos que frequentaram o ensino superior (1,4%). Na conferência de imprensa da Direção-Geral da Saúde (DGS) desta sexta-feira, a coordenadora do inquérito serológico para a covid-19 do INSA, Ana Paula Rodrigues, explicou que a diferença se justifica pelo maior contacto que uns tiveram em relação aos outros. As pessoas com ensino secundário poderão ter "desconfinado" menos e trabalharam mais durante o período em análise.
Das 2301 pessoas que integraram o estudo, todas têm idade igual ou superior a um ano e foram testadas em 96 pontos de sete laboratórios em todo o país. A amostra, que a coordenadora do INSA diz ser "representativa", procurou ter diversidade de regiões e idades. Porém, admite-se, que no futuro será necessário "olhar com atenção com algumas regiões do país".
Os dados, segundo Ana Paula Rodrigues, vêm demonstrar a importância da "manutenção das recomendações de proteção individual e coletiva para todos os indivíduos". "Os anticorpos conferem algum nível de proteção", contudo não se sabe por quanto tempo ("se anos ou meses"), revela a coordenadora do estudo. "Não é possível ter essas projeções", disse. Uma das conclusões principais é a de que o vírus não circulou com muita intensidade em Portugal. Mas, a prova só poderá ser tirada com mais inquéritos serológicos, cujas datas ainda não estão fechadas.