Portugal precisa do dobro dos rastreadores, diz especialista. Incidência no continente passa 400 casos/100 mil e ocupação dos Intensivos perto do limite.
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A linha vermelha da incidência por 100 mil habitantes há muito foi passada, com o Continente a passar agora os 400. A ocupação dos Cuidados Intensivos covid estão a 74% do limiar crítico. Mas há outras linhas vermelhas a medir. E também estas foram ultrapassadas, com a positividade acima dos 4% e a percentagem de casos e contactos isolados e rastreados nas primeiras 24 horas após a notificação abaixo dos 90%. Sendo urgente reforçar os rastreadores.
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De acordo com cálculos do matemático Carlos Antunes, a positividade - percentagem de positivos entre as amostras testadas - está nos 5,7%, acima do limiar de 4% definido pelos peritos, em linha com o Centro Europeu para Prevenção e Controlo das Doenças, no relatório entregue ao Governo em março e que serviu de base à matriz de risco. Sendo que, quanto mais baixa aquela taxa, menor a probabilidade de existir transmissão não detetada.
O professor da Faculdade de Ciências de Lisboa desmonta: se, em finais de abril, tínhamos 700 casos positivos por 100 mil testes, agora temos mais de cinco mil. Agravamento, ainda assim, longe do aperto da terceira vaga, quanto, em janeiro, a positividade chegou aos 20% e, por cada 100 mil testes, detetavam-se 20 mil positivos, num claro sinal de descontrolo.
Mais de 200 mil testes
Para baixar a positividade é preciso testar bem acima dos atuais 60 a 65 mil testes diários. "Para se manter a positividade abaixo de 2%, teríamos de estar a realizar mais de 200 mil testes por dia", considera Carlos Antunes, ciente dos recursos que tal implicaria numa altura em que o país corre contra o tempo na campanha de vacinação, num sprint contra a variante indiana, a Delta.
Recursos que faltam, também, na vigilância epidemiológica. Com 63% dos casos notificados rastreados e isolados em 24 horas, longe dos 90% ideais. Faltam rastreadores. Há muito que os médicos de Saúde Pública e os peritos ouvidos pelo Governo alertam para a necessidade deste reforço.
"Com perto de 4 mil casos/dia, serão necessários perto de mil rastreadores epidemiológicos", diz Carlos Antunes. Sendo que o último relatório do INSA dava conta de 433 rastreadores a tempo inteiro, por dia, no período de 8 a 14 de julho.
Os mesmos problemas
"A situação continua complicada, porque os recursos não dão para as necessidades, era fundamental que os recursos viessem e que os indicadores se aproximassem do ideal", considera o presidente da Associação dos Médicos de Saúde Pública. Conversa repetida no último ano e meio.
"De facto, nesta suposta quarta onda, continuamos a ter os mesmos problemas que tínhamos na primeira. Há um esforço grande no reforço da vacinação, mas descurar este aspeto não ajuda a conter o problema", diz Ricardo Mexia.
Questionada sobre o reforço de rastreadores, a Direção-Geral da Saúde (DGS) remete para as administrações regionais de Saúde. "O reforço de rastreadores depende de cada autoridade de saúde regional, que avalia e gere as suas próprias necessidades", fez saber.
Refira-se, por último, que a incidência no Continente está nos 403 casos a 14 dias por 100 mil habitantes. Nos internamentos contam-se mais 46 pacientes e nos Intensivos mais cinco.