Seja qual for o resultado que o CDS-PP venha a ter nas legislativas de domingo, Francisco Rodrigues dos Santos não se livra de uma "clarificação da liderança", que chegou a estar marcada para novembro, sendo que o eurodeputado Nuno Melo deverá entrar num jogo. Para os críticos, é a forma como a liderança tem sido exercida que deve ser questionada e não os votos alcançados ou até o facto de conseguir ou não uma pasta governamental.
Francisco Rodrigues dos Santos, que foi eleito, faz esta quarta-feira, precisamente dois anos, não sente falta de legitimidade para se submeter aos votos dos portugueses no domingo. "O meu mandato termina no próximo congresso, quando ele for marcado", considera, repetindo o que disse quando, nas vésperas da eleição dos delegados, decidiu anular o conclave marcado para 26 e 27 de novembro, apesar de Nuno Melo já andar pelo país em campanha interna.
O eurodeputado ainda tentou, por todos os meios, que o conclave fosse realizado antes das legislativas, mas não conseguiu. "Vai realizar-se no calendário normal. A seguir às eleições legislativas, haverá congresso e disputar-se-á a liderança", como disse Francisco Rodrigues dos Santos no Porto, garantindo que, agora, não se irá furtar à apreciação dos militantes.
Novo e velho presidente
O líder do CDS-PP confia, contudo, que irá a esse congresso com um resultado nas legislativas que retire margem de manobra aos seus críticos internos.
"Tenho uma meta ambiciosa. É que o partido cresça e se afirme forte. E tenho a certeza absoluta que vou conseguir e, conseguindo, o novo presidente do partido será o velho presidente do partido. Sou eu", avisou Francisco Rodrigues dos Santos, embora não especifique qual é essa meta, ou seja, se inclui um número de deputados ou a conquista da pasta da Defesa, tal como já pediu a Rui Rio e o líder do PSD aceitou.
Mas, para os críticos internos, não é o cumprimento de metas eleitorais que está em causa. É a "lógica autoritária e prepotente" da presidência, apurou o JN. Por isso, a liderança terá "sempre que ser clarificada", mesmo que o CDS-PP consiga integrar um Governo. Daí que "oposição haverá sempre" no congresso que Francisco Rodrigues dos Santos promete marcar depois das legislativas.
Sendo assim, Nuno Melo será chamado a levar até ao fim o desafio à liderança. E não deverá recusar, apesar de ainda não ter decidido em absoluto. Segundo apurámos, na decisão não pesa o resultado eleitoral, mas a herança deixada pelo atual líder, em particular a situação financeira do CDS-PP.
O que dizem os estatutos do CDS-PP
Presidente em gestão
Segundo o artigo 31.º dos estatutos dos centristas, o presidente do CDS-PP só cessa o seu mandato quando "forem apurados e aclamados" os resultados das eleições em congresso. Até lá, Francisco Rodrigues dos Santos permanece em gestão.
Congresso bianual
O congresso "reúne ordinariamente de dois em dois anos". Mas pode ser convocado extraordinariamente por deliberação do Conselho Nacional ou mediante um requerimento assinado, "pelo menos, por 10% dos militantes".
Dez dias de antecedência
O Conselho Nacional tem que ser convocado pelo seu presidente com 10 dias de antecedência, se não for urgente. Pode ser requerido por um quinto dos membros.