Com cinco barragens em situação crítica, a situação no nordeste transmontano preocupa as autoridades.
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Com destaque para Carrazeda de Ansiães, onde está a ser ponderada a suspensão do abastecimento de água à população durante a noite e o aumento do segundo escalão do tarifário. Ao JN, o vice-presidente da Agência Portuguesa do Ambiente (APA) garante estar assegurada a água para consumo humano, tanto a norte como a sul. E avisa: "Temos de aprender a viver com menos água".
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O cenário agrava-se de dia para dia, naquele que é o segundo ano hidrológico mais seco de sempre, só ultrapassado por 2004/05, na pior seca de que há registo. A percentagem de água no solo em grande parte do nordeste transmontano está abaixo dos 10%, no cenário mais gravoso de todo o país, e as albufeiras à míngua. Concretamente a de Fonte Longa, em Carrazeda de Ansiães, estando a ser preparado o transporte de água do Tua através de camiões-cisterna.
A 15 de junho, dois terços do território estavam na classe de seca extrema, a mais grave. Neste ano hidrológico, choveu metade do normal, sendo o segundo mais seco de sempre.
Neste momento, explica Pimenta Machado, a APA e a Câmara de Carrazeda estão a ponderar "suspender o abastecimento de água no período noturno e aumentar o 2.º escalão do tarifário para quem consome mais água". Estando, ainda, a trabalhar "na reabilitação de novas captações de água, furos que já existem, para poupar água da albufeira". Bem como utilizar águas das ETAR com tratamento adicional para usos não potáveis (ApR), como sejam "a lavagem de ruas ou rega de jardins". Em causa, diz, "seis mil a sete mil habitantes".
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Além de Fonte Longa, são ainda fator de apreensão as barragens de Salgueiral (Torre de Moncorvo), Sambade (Alfândega da Fé), Valtorno-Mourão (Vila Flor) e Vila Chã (Alijó). "Estas cinco albufeiras têm uma reserva de água muito baixa, entre 20% e 30%", diz o vice-presidente da APA. Tendo aquela agência previstas "reuniões periódicas" com a Câmara de Alijó e as Águas do Norte "para avaliar a situação e a água disponível na albufeira, tal como se fez com Carrazeda".
Algarve: reservas 25% abaixo
No Algarve, em junho face a período homólogo do ano passado, as reservas estão 25% abaixo, contando menos 80 hectómetros cúbicos (hm3). Numa altura em se espera, por via da retoma do turismo, um "aumento do consumo de água entre 15% e 20%". Ao contrário de anos anteriores, a situação mais crítica está no Barlavento, com a barragem de Bravura a 13% (ver infografia). Isto, mesmo depois de, em fevereiro, ter sido determinado o seu uso exclusivo para abastecimento público.
Portugal consome, anualmente, o equivalente a dois Alquevas (cerca de seis mil milhões de m3), ilustra Pimenta Machado. Desses, 74% estão a cargo da agricultura e 14% do setor urbano. Com desperdícios, respetivamente, entre 50% e 25%.
No terreno, explica Pimenta Machado, reabilitam-se "captações antigas de água, em Portimão, Vila do Bispo e Aljezur". Estando também dois campos de golfe a ser regados com ApR, com um milhão de hm3, sendo o "objetivo chegar ao final deste ano aos 4 hm3 e no final do Programa de Recuperação e Resiliência aos 8 hm3, que são oito milhões de metros cúbicos". Num "trabalho difícil e complexo", garantindo aquele responsável que "não vai faltar uso para consumo humano".
Mais ondas de calor
Para complicar, o país prepara-se para enfrentar uma nova onda de calor, como em junho e em maio, com as temperaturas a chegar aos 40º nalgumas zonas do país. Mais do que o presente, teme-se já o próximo ano hidrológico, que se inicia em outubro. Num século que conta cinco dos dez anos mais quentes de sempre. "Vai obrigar-nos a gerir ainda melhor a água que temos nas albufeiras". Com mais eficiência, parcimónia, numa nova gestão de recursos. Nomeadamente pela agricultura, o setor que mais consome e que mais desperdiça, frisa Pimenta Machado.