A existência de vários focos de infeção por coronavírus em lares de idosos e estruturas de acolhimento - com a morte de uma mulher de 97 anos, no sábado, em Braga - fez soar campainhas.
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A ministra da Saúde, Marta Temido, alertou para a necessidade de estas instituições terem planos de contingência. Há pelo menos quatro espaços com casos de Covid-19 - em Famalicão, Braga, Santarém e Sintra - e uma utente de 94 anos infetada numa Unidade de Cuidados Continuados de Resende, obrigando 32 funcionários a ficarem de quarentena.
As associações do setor dizem estar a fazer o que podem, com as dificuldades que têm, designadamente ao nível da reorganização das equipas, e da falta de material de proteção que dizem estar "em rutura".
O caso da Residência Sénior Pratinha, em Cavalões, Famalicão - onde ficaram apenas três pessoas a cuidar de 31 idosos, depois de "7 ou 8 funcionárias terem testado positivo" à Covid-19 e os restantes estarem de quarentena - levantou o véu das dificuldades que estas instituições estão a viver.
As funcionárias daquela estrutura estão infetadas ou de quarentena e, ontem, apenas a diretora técnica, grávida, uma enfermeira e a proprietária estavam aptas a tratar dos 31 idosos. Diziam-se "exaustas" e queixavam-se de falta de resposta.
Não há como ter o dobro
Confrontada com este caso, a ministra da Saúde não foi meiga e lembrou que há várias semanas existe uma orientação para que estas instituições tenham planos de contingência para se prepararem para este tipo de situação. "Ter profissionais de segunda linha que estivessem prevenidos para serem acionados, ter equipas a funcionar em espelho, em turnos rotativos semanais", exemplificou. "Sei que é difícil e que muitas vezes estas entidades não têm meios", notou.
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As dificuldades de agilizar um plano de contingência são destacadas por João Ferreira de Almeida, presidente da Associação de Apoio Domiciliário, de Lares e Casas de Repouso de Idosos, garantindo que as instituições têm o número necessário de pessoas a trabalhar.
"Não há como ter o dobro do pessoal que precisam para fazer equipas de prevenção", explica, notando a dificuldade em contratar pessoas. "Temos difundido as recomendações, mas é difícil também a criação de zonas de isolamento", disse.
Manuel Lemos, da União das Misericórdias, garante que têm "tentado criar equipas de substituição, dividindo equipas", mas reconhece "dificuldades nos territórios de baixa densidade porque não há pessoas". "Devia haver reorganização de recursos humanos, mas se o fizéssemos antes desta crise, batiam nas inspeções", continuou. "Agora temos é de ajudar as pessoas", sublinhou, remetendo uma reflexão sobre o setor para depois desta crise.
Alexandra Vieira, diretora técnica da Residência Pratinha, disse ter tentado ter "equipas espelho", mas "não foi possível", porque são uma estrutura pequena. Tentou recrutar mais enfermeiros, mas não conseguiu.
No que se refere aos equipamentos de proteção individual para profissionais do setor, Manuel Lemos assevera que estão a "entrar em rutura" e que já enviou para o Infarmed uma "lista de prioridades com os casos mais prioritários".