Em Portugal diz-se que, se um político quiser ficar na história, tem de deixar obra. Pelo que se viu esta semana, há vários políticos que se arriscam a terminar o mandato sem obra, mas com cadastro.
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Há suspeitas de obras que não saíram do papel, obras sobre orçamentadas e sempre entregues a amigos e ainda várias obras contratadas sem haver dinheiro para as pagar.
Em Caminha, o atual secretário de Estado Adjunto do primeiro-ministro está envolvido numa polémica com um centro de exposições, contratualizado em 2020, mas ainda por construir. Enquanto liderava a Autarquia, Miguel Alves assinou um contrato-promessa e adiantou um ano de rendas a uma empresa da qual pouco ou nada se sabia. Os 300 mil euros há muito que saíram dos cofres da Autarquia, mas a obra ainda nem sequer saiu do papel. A Procuradoria-Geral da República já abriu um inquérito.
Ainda a Norte, em Montalegre, o presidente da Câmara Orlando Alves, o vice-presidente David Teixeira e um chefe de divisão foram detidos pela Polícia Judiciária. São suspeitos de criar um cartel com empreiteiros e familiares para inflacionar valores e adjudicar obras aos "amigos". As obras faziam-se mas, à conta da alegada associação criminosa, custavam muito mais do que deveriam. Os suspeitos foram ouvidos esta sexta-feira no tribunal, não se sabendo ainda as medidas de coação aplicadas.
Em Oeiras, Isaltino Morais está de novo com a Justiça à perna. Após ser condenado a dois anos de prisão por fraude fiscal e branqueamento de capitais, voltou a ganhar as autárquicas em 2017 e 2021. Agora, voltou a ser acusado pelo Ministério Público (MP). Haverá indícios de que Isaltino e os ex-presidentes da Câmara de Odivelas, Susana Amador, e de Mafra, Ministro dos Santos, terão favorecido uma construtora na adjudicação de contratos.
A empresa cedia serviços de consultadoria jurídica aos municípios para que estes conseguissem lançar parcerias público-privadas apesar de legalmente estarem impedidos de o fazer por já estarem sobre-endividados. A construtora terá lucrado 33 milhões de euros com as parcerias. Os autarcas, mesmo sem dinheiro conseguiam "mostrar obra feita", acusa ao MP. Isaltino garante que cumpriu a lei e que o Município não foi prejudicado.
Do outro lado do Atlântico, os brasileiros decidem este domingo se reelegem o atual presidente Jair Bolsonaro ou Lula da Silva, um ex-presidente que também já esteve a braços com a Justiça por causa de obras e construtoras. Se quiser saber qual o candidato à Presidência Brasileira com o qual se identifica mais, responda a este questionário elaborado pelo JN.
Em plena reta final da campanha eleitoral, o atual ministro da Economia Paulo Guedes teve um deslize, de honestidade ou de inabilidade, quanto tentava apelar ao voto. "Eu, se fosse o Bolsonaro, diria: tudo o que o Lula fizer, eu faço mais. Porquê? Porque nós roubamos menos", afirmou, para logo depois se retratar: "Nós não roubamos". Pois não. E se calhar nem obra fazem. São obras do Diabo.