Dez milhões de refugiados: é este o nível antecipado de catástrofe humanitária. Quem o diz é o porta-voz de Guterres na ONU. Hoje é o 9.º dia da guerra. E a guerra também é contrainformação. Atenção às 20 horas: apague a luz em casa e ouça os sinos das igrejas tocar. O gesto solidário para com a Ucrânia vai atravessar a Europa toda.
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Nova lei russa aprovada esta sexta-feira: quem chamar "guerra" à "operação militar especial" da Rússia sobre a Ucrânia fica sujeito a uma pena até 15 anos de cadeia - e há muitas outras penas intermédias com multas até 50 mil dólares e várias formas de prisão com trabalhos forçados. A votação foi unânime na Duma, o Parlamento russo.
É, claramente, uma lei de censura. O regulador de media na Rússia, Roskomnadzor, publicou a declaração no seu site: "Ao preparar materiais e publicações relacionadas com a condução de uma operação especial em ligação com a situação na República Popular de Lugansk e na República Popular de Donetsk, ["repúblicas mineiras" sob controlo pró-russo, com líderes fiéis a Putin e que a Rússia reconheceu, unilateralmente, independência antes da guerra], os media são obrigados a usar informações e dados recebidos apenas de fontes oficiais russas". Tudo o resto, incluindo o cruzamento de dados e fontes e a obrigação ética do contraditório, ouvindo sempre o outro lado de qualquer questão jornalística, é considerado pelo Roskomnadzor "informação falsa". O regulador tem agora poder legislativo para bloquear imediatamente sites e publicações que disseminem, segundo a sua bitola censória, quaisquer "informações falsas".
A propaganda da guerra também nos afeta do lado de cá: em Portugal, quem quiser ver os canais russos RT e RT Documentary esbarra agora nesta mensagem que surge a negro no ecrã dos distribuidores Vodafone, Nos e Meo: "A emissão deste canal está proibida por decisão do Regulamento UE 2022/350 do Conselho, de 1 março 2022". Mais do que informação jornalística cabal, os canais disseminavam o proselitismo e uma só doutrina sectária de conversão.
Entramos hoje no 9.º dia da guerra. Já houve dois encontros entre delegações russas e ucranianas para discutir o cessar-fogo. Os dois encontros falharam. O terceiro vai decorrer este fim de semana. Está tudo aqui, em direto, ao minuto.
A guerra passa-se, como nunca antes vimos ou soubemos sequer imaginar, nas redes sociais de cada um. Do lado russo há mais uma baixa: o Facebook acaba de ser banido lá.
A guerra já é um desastre humanitário e a União Europeia está "realmente preocupada" com a escala de uma catástrofe que não se via "desde os dias mais negros do século passado", disse Ursula von der Leyen.
Entretanto, estima-se que mais de 1,2 milhões de refugiados ucranianos já fugiram para países vizinhos desde o início da guerra, no dia 24 de fevereiro, revela a UNHCR, a agência de refugiados da ONU. O porta-voz de António Guterres, secretário-geral das Nações Unidas, já fez uma estimativa alarmante: os refugiados deslocados vão superar os 10 milhões de pessoas se a guerra continuar. Volte a ler este número, feche os olhos e imagine o que era esvaziar de repente todo o Portugal continental.
O nono dia da guerra continua a ser marcado pela noite e pela madrugada surreal em que vimos, em tempo real, as tropas russas atacar com armamento pesado e disparos diretos a central nuclear de Zaporizhzhia, no sul da Ucrânia, que é a maior da Europa e está agora debaixo do domínio russo. O ataque foi indiscriminado, indisciplinado e criminoso.
Luís Neves, da Universidade de Coimbra, e Carlos Varandas, do Instituto Superior Técnico de Lisboa, ambos membros da Comunidade Europeia da Energia Atómica, explicam-nos aqui o que esteve, e está ainda, em causa no grande perigo atómico.
Para saber ainda mais sobre o quão perto estivemos ontem de um desastre nuclear, é só clicar aqui.
Ponto de situação da invasão às 19 horas do nono dia da guerra: as forças da Rússia intensificaram o bombardeamento de cidades no leste e sul da Ucrânia depois de assumirem o controle de Kherson na quinta-feira, causando danos devastadores. Odessa poderá cair a seguir. Mariupol continua cercada, mas ainda não caiu. Soldados russos já entraram em Mykolayiv, e Kharkiv, a segunda cidade do país, foi fortemente bombardeada, de novo. Estaremos a horas de assistir à tomada de assalto russo sobre todo o sul da Ucrânia. Por que é que o sul é importante? Porque é lá que está a única saída marítima da Ucrânia e o essencial acesso ao Mar Negro.
A onda solidária para com a Ucrânia é avassaladora. Fique a saber aqui como pode e deve ajudar.
A mensagem de protesto e amparo está a disseminar-se pelo Facebook: hoje à noite vão tocar os sinos das igrejas em Portugal. Ao mesmo tempo, pede-se que "todos desliguem também as luzes das suas casas, para mostrar a Putin que preferimos ficar às escuras do que comprar o seu gás ou petróleo". A ação está a ser convocada por toda a Europa quando baterem as 20 horas em Londres (mesma hora portuguesa), ou seja às 22 horas de Kiev e 23 horas de Moscovo.