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A semana termina com os líderes ibéricos a reforçarem compromissos na 33.ª cimeira luso-espanhola, que teve a ciência, a energia e os territórios de fronteira na agenda. Com a inovação sob mote mas sem o anúncio de grandes inovações ou novidades estrondosas, a cimeira ibérica, que envolveu uma comitiva de 18 ministros dos dois governos, serviu mais para cimentar entendimentos quanto ao turismo fronteiriço, à ferrovia de alta velocidade, ao controlo da convenção sobre rios comuns (leia aqui) e às interligações energéticas (aqui).
Precedendo uma visita dos primeiros-ministros português e espanhol ao Laboratório Ibérico de Nanotecnologia de Braga, o arranque da cimeira aconteceu em Viana do Castelo, primeiro com uma cerimónia militar, depois com um passeio securitário ao sol e uma paragem de António Costa e Pedro Sánchez pelas míticas bolas de Berlim do Natário, entre apertos de mão e selfies com a população. "Não sei de onde é que saiu tanta gente hoje. Todos querem agradecer-lhe os 125 euros e assim o homem nunca mais cá chega", dizia, à jornalista Ana Peixoto Fernandes, um vianense que esperava os chefes de Governo no alto do monte de Santa Luzia. Leia aqui a reportagem.
Na volta ao Mundo de hoje, paramos em Pequim, onde o chanceler alemão, Olaf Scholz, apelou ao presidente chinês, Xi Jinping, para interceder pelo fim da guerra na Ucrânia. Em resposta, o líder asiático desenhou linhas vermelhas no conflito, fazendo um X em cima do uso de armas nucleares, mas sem nunca criticar Moscovo ou se comprometer em interceder junto de Putin com vista à retirada das tropas do território ucraniano - saiba mais sobre o encontro no artigo da jornalista Ana Isabel Moura. Isto no mesmo dia em que o chefe de Estado russo disse que sempre tratou "com respeito e cordialidade" o povo ucraniano, defendendo que "a população civil não deve sofrer" - uma premissa certeira mas com a qual, algo me diz, a população em causa discordará um poucochinho...
Da casa da democracia francesa, chega um exemplo pouco democrático. Não é fácil mudar os tiques supremacistas e xenófobos que vão salpicando os dias quando esses mesmos tiques nos chegam de cima, de quem tem (ou deveria ter) um superior dever moral de salvaguardar os direitos de todos os cidadãos. Foi o que não fez Grégoire de Fournas, deputado da extrema-direita francesa, do ainda partido de Le Pen, que, ontem, em sessão plenária na Assembleia Nacional do país, interrompeu a intervenção de outro parlamentar para reavivar uma frase tão antiga e, ainda assim, tão atual. "Volte(m) para África", vociferou, logo motivando revolta e indignação entre as restantes bancadas, como pode ver no vídeo partilhado durante a tarde no site do JN. Mais tarde, Fournas garantiu que não se dirigia a Carlos Martens Bilongo, como foi acusado, mas sim aos migrantes ilegais de que o deputado de Esquerda falava na sua intervenção.
O esclarecimento não travou o castigo e o deputado foi penalizado com quinze dias de suspensão no parlamento. Há casos em que, mais importante do que uma ação, é a reação que esta espoleta: ainda que a frase dita pelo deputado tenha prestado um péssimo serviço público, o facto de esta não ter sido recebida com normalidade e não ter passado impune traz ao Mundo a réstia de esperança que precisa. Talvez, com mais resistência a neofascismos, não seja necessário fugir para o Gaia BH1, o buraco negro mais próximo da Terra, recém-descoberto por uma equipa de astrónomos norte-americanos.