Corpo do artigo
"A vergonha tem de mudar de lado" fica na memória como uma das frases do ano que passou. Foi dita em tribunal pela corajosa Gisèle Pelicot, francesa de 72 anos violada ao longo de uma década por 51 homens, entre os quais o então marido, pai dos três filhos e aquilo a que comummente se chama um bom homem de família, até os horrores que escondia mostrarem que não o era.
Foram todos considerados culpados, esta quinta-feira, num veredito histórico em França e no Mundo, que encerrou um julgamento que ajudou a mudar o paradigma das vítimas de violência sexual. Não são elas que se devem esconder ou envergonhar, são eles, os agressores, disse várias vezes Gisèle. O ex-marido, Dominique Pelicot, condenado por violação agravada, tal como mais de 30 arguidos, foi sentenciado a 20 anos de prisão - pena máxima no país - por violar Gisèle e drogá-la com ansiolíticos durante anos, para ser abusada por dezenas de desconhecidos recrutados na Internet, acumulando ainda milhares de imagens íntimas (de Gisèle e de outras mulheres, incluindo a filha) captadas sem consentimento.
De idades, profissões e posturas em tribunal muitos diferentes, aos 51 condenados - alguns dos quais replicaram o modus operandi de Dominique com as suas mulheres - une-os a aparente e inacreditável falta das mais básicas noções de comportamento humano. "Eles viam-me como uma boneca de pano, como um saco de lixo", disse Gisèle Pélicot no tribunal, onde asseverou lutar por "todas as pessoas ao redor do Mundo, mulheres e homens, que são vítimas de violência sexual". Conheça aqui os perfis de todos os homens e leia a análise do caso feita pela APAV ao jornalista Gabriel Hansen.
Cá no país, as propostas da Direita na Saúde viram luz verde esta quinta-feira no Parlamento. Os projetos de lei dos dois partidos da AD e do Chega sobre o acesso ao SNS por estrangeiros não residentes em Portugal foram aprovados pelas três bancadas, com os votos contra de PS, PCP, BE, Livre e IL. Como explica a jornalista Carla Soares, o diploma do partido de André Ventura, o primeiro a ser aprovado graças ao PSD e ao CDS-PP, propõe alterar a Lei de Bases da Saúde e o Estatuto do Serviço Nacional de Saúde, estipulando que "os nacionais de países não pertencentes à União Europeia que não sejam residentes" no país não sejam considerados beneficiários do SNS, podendo aceder ao mesmo "mediante o pagamento dos serviços usufruídos" ou em caso de emergência. Na mesma linha, o projeto de lei da AD, aprovado com o apoio do Chega, visa alterar a Lei de Bases da Saúde para travar a "utilização abusiva" do SNS, exigindo documentação extra a estes cidadãos, salvaguardando a exceção para cuidados "urgentes e vitais".
O próximo ano dir-nos-á se a medida consegue responder aos problemas da Saúde, que, como noticia a jornalista Alexandra Inácio, se tornou, no último trimestre, no setor com o maior número de convocatórias de greve, substituindo o da Educação. Finanças, recolha do lixo, aeroportos, registos e distribuição nos supermercados são outros serviços que ameaçam parar ou funcionar a meio gás, devido a paralisações na época festiva.
Já paralisada está a fábrica da Coindu em Arcos de Valdevez. Esta quinta-feira foi o último dia de trabalho da unidade de fabrico de capas para automóveis, marcado pela tristeza das trabalhadoras, essencialmente da área da costura, que foram sendo dispensadas ao longo da manhã e que, à saída, penduraram batas no gradeamento da empresa. Um ato simbólico de despedida e protesto pelo encerramento, reportado no local pela jornalista Ana Peixoto Fernandes.
Mudemos a agulha para a justiça: mais de 15 criadores de conteúdo e influenciadores do universo digital, entre as quais as antigas estrelas de reality shows Fanny e Bernardina, serão alvo de queixa-crime por promoção de jogo ilegal. De acordo com a Associação Portuguesa de Apostas e Jogos Online, que vai avançar com o processo, os prejuízos para o Estado são de 270 milhões anuais. Os indivíduos apresentam o jogo "como uma forma de gerar rendimentos" e publicitam sites ilegais, "um mercado onde não há regras" e onde até menores de 18 anos podem aceder. Leia aqui.
Continue, de resto, a acompanhar toda a matéria noticiosa relevante no site e na edição impressa do JN, com desejos de uma época festiva feliz e tranquila!