Caro leitor, O JN inicia hoje a publicação de uma newsletter diária dedicada às europeias. Com uma atenção especial à campanha em Portugal, mas sem esquecer o que de mais relevante for acontecendo nos restantes 26 países da UE. Acompanhe-nos ao longo das próximas duas semanas, sempre por volta das 21 horas.
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A campanha está na rua? Na verdade, começou no dia seguinte ao das últimas eleições legislativas, que trouxeram uma mudança de Governo, mas também um empate entre PSD e PS na Assembleia da República (78 deputados para cada um). Começou a perceber-se desde então que as europeias, mesmo que nada mudem na atual aritmética (ou impasse) parlamentar, seriam uma espécie de tira-teimas entre os dois maiores partidos portugueses.
A melhor prova dessa continuidade, ou contaminação, entre política nacional e europeia deu-a o Governo de Luís Montenegro, ao convocar os partidos, no final da semana passada e a escassos dias do arranque da campanha, para uma série de reuniões para discutir o tema da imigração. Um tema que se tornou central para os políticos, e em particular para o que estão mais à Direita, mesmo que os cidadãos não pareçam dar-lhe demasiada importância, como mostra o Eurobarómetro da Primavera.
O discurso sobre a “ameaça” da imigração “em massa” faz parte, há vários anos, do discurso da direita radical (a europeia e a portuguesa) e o tom vai subindo à medida que nos aproximamos do dia de ir às urnas. Mas, independentemente da retórica exacerbada dos populistas, há dados concretos que mostram um crescimento acelerado da imigração em Portugal: de acordo com os dados mais recentes da Agência para a Integração, Migrações e Asilo (a AIMA, que substituiu o SEF), e que o JN publicou esta segunda-feira, em 2023, entraram no país 329 mil imigrantes, fazendo com que se tenha ultrapassado, pela primeira vez, a barreira de um milhão de residentes estrangeiros em Portugal. Pode ver esses números e a sua análise mais detalhada aqui.
A democracia tem custos
A campanha está na rua e vai custar bastante dinheiro: 4,6 milhões de euros. Não é crítica, é um facto. Como tantas vezes se diz, e nunca é demais repetir, a democracia custa dinheiro. Como se explica no trabalho da jornalista Carla Soares, que pode ver aqui, os socialistas destacam-se dos restantes partidos, com um orçamento de 1,5 milhões de euros. O PS aposta todas as fichas no já referido tira-teimas, seja na vertente financeira, seja na vertente política, uma vez que o líder, Pedro Nuno Santos, estará todos os dias na rua junto da cabeça de lista Marta Temido.
Mais contido será Luís Montenegro, também porque acumula o facto de ser líder do PSD, e, portanto, da Aliança Democrática (a que se somam o CDS e o PPM), com o cargo de primeiro-ministro. Os sociais-democratas são também mais contidos nos gastos, apontando para uma fatura de 975 mil euros. A agenda do Governo ditará quantas vezes Montenegro fará companhia a Sebastião Bugalho.
Seguem-se a CDU (coligação liderada pelos comunistas), com 620 mil euros e o Chega, com meio milhão, e a certeza da campanha contar com André Ventura em permanência. O Chega destaca-se, aliás, por ser o único partido em que a fotografia do cabeça de lista (Tânger Correia) não aparece nos cartazes. Tudo gira em volta do líder. Já agora, o partido mais poupadinho é o Livre (50 mil euros).
Conheça “A família Europa”
A campanha está na rua, mas, para que não se perca no meio do ruído, vamos sugerir-lhe algumas leituras, ao longo dos próximos dias. A melhor forma de começar talvez seja o trabalho multimédia “A família Europa”.
Como escreve a jornalista Inês Moura Pinto, nesta família, “uns acenam à direita, outros à esquerda. E alguns um pouco para cada lado”. Uma forma rápida de conhecer as famílias políticas do Parlamento Europeu e, já agora, quem são os candidatos portugueses (para além dos mais mediáticos cabeças de lista).
Entrevistas aos cabeças de lista
O JN está também a publicar entrevistas com os cabeças de lista dos oito partidos e coligações que estão representados no Parlamento português (ou seja, os que têm maiores probabilidades de eleger deputados ao Parlamento Europeu). Acolha-se a leitura, ou, em alternativa, a versão em vídeo:
"Decidiram entregar o dinheiro da UE a bandidos", diz Catarina Martins, cabeça de lista do BE. Pode ler aqui, ou ver o vídeo aqui;
"É mito dizer que transição verde terá mais custos que benefícios", segundo Pedro Fidalgo Marques, do PAN. Pode ler aqui, ou ver o vídeo aqui;
"Os agricultores são beneficiados pela política ambiental", afirma Francisco Paupério, do Livre. Pode ler aqui, ou ver o vídeo aqui;
"Situação da habitação é fruto da entrega do setor ao mercado", diz João Oliveira, da CDU. Pode ler aqui, ou ver o vídeo aqui;
"Ter um liberal a representar Portugal é altamente aliciante", garante Cotrim de Figueiredo. Pode ler aqui, ou ver o vídeo aqui;
Nos próximos dias haverá também entrevistas a Marta Temido (PS), Sebastião Bugalho (AD) e Tânger Correia (Chega). E delas daremos nota em próximas edições do “Radar Europa”.
Direita radical a crescer
A campanha está nas ruas. Nas portuguesas, mas também nos restantes 26 países que compõem a União Europeia. Ao longo dos próximos dias estaremos tão atentos ao que se passa por aqui, como ao que se passa por essa Europa fora. Até porque, na sequência destas eleições, se anunciam mudanças no equilíbrio de forças do Parlamento Europeu, em particular com o anunciado crescimento dos partidos da direita radical. Ao ponto de, em conjunto, ameaçarem transformar-se no maior bloco político em Estrasburgo.
Como se pode ver pela mais recente projeção de resultados da “sondagem das sondagens” do site “politico.eu”, somando os dois grupos da direita radical e populista (Conservadores e Reformistas do ECR, e Identidade e Democracia, em que está filiado o Chega) com os deputados projetados para a Alternativa para a Alemanha e para o Fidesz de Viktor Órban, seriam 171 eleitos.
Mais três do que o que se prevê nesta altura para o Partido Popular Europeu (168), centro-direita de que fazem parte PSD e CDS. E mais 26 do que o grupo dos Socialistas e Democratas (145), o centro-esquerda em que se inscreve o PS. Os grupos que reúnem os Liberais, os Verdes e a Esquerda, estão todos em queda.
Se as projeções se confirmarem, os Liberais, de que fará parte a IL, ficariam com 80 deputados (menos 22 do que atualmente); os Verdes, onde está filiado o Livre, com 41 (um trambolhão de 31 lugares); e a Esquerda Europeia, que junta PCP e BE, com 32 (menos cinco).