O gesto de João Cutileiro que marcou a escritora Mariana Jones.
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"Soube desta escultura, depois de ter faltado à exposição de João Cutileiro, que inaugurava o Museu da Pedra, em Cantanhede. Dias depois, recebi por correio o catálogo da exposição e um post-it a marcar uma página. O João tinha-me esculpido em mármore de Estremoz e lava do Fogo (a pedra mais jovem do Mundo). Juntou-lhe em bronze sete exemplares. Tínhamo-nos conhecido em Évora. Estava eu a passar para a pré-adolescência. Escrevíamos cartas um ao outro. Ele acrescentava-lhes desenhos e saber. Eu devolvia apenas, impulsivamente, perguntas livres e espanto. Ficámos amigos, antes mesmo de eu perceber. Chegou a fotografar-me e a desenhar-me em pedra. Mas quis sempre que um dia pudesse ser uma das suas modelos. Nunca fui. Já na adolescência rapei o cabelo. Máquina zero. Contei-lhe por carta. Respondeu-me só depois, com a escultura. Ele foi especial. Tornava maleável a pedra dura. Provocava muito(s). Ligava-me com precisão no dia do meu aniversário. Este objeto reúne simbolicamente muitas partes minhas. A infância, a liberdade, a arte, a sensibilidade e os laços... que ficam para sempre. Como a saudade que me deixa."
Mariana Jones
40 anos
Escritora