É um fenómeno comum e universal. Uma atenção seletiva, uma lente poderosa. Não é a realidade que muda, é a forma como o cérebro filtra a informação.
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Compra-se um carro de uma certa marca e de uma determinada cor e, de repente, parece que a estrada está cheia de automóveis iguaizinhos. Veste-se aquela roupa e eis que esse vestuário se multiplica nas ruas, nos cafés, nos transportes. Apreende-se uma palavra, que se adiciona ao vocabulário corrente, e eis que ela começa a aparecer em todo o lado, em conversas, em livros, nas redes sociais. Durante nove meses, uma mulher grávida olha à sua volta e sente que o mundo está grávido também, a sua atenção, tal como um radar, foca-se em barrigas e bebés. Há uma música que entra nos ouvidos e começa a passar em todo o lado, lojas, bares, rádios. É a ilusão da frequência, fenómeno mental subtil e poderoso, capaz de moldar perceções, emoções, e até decisões.
A impressão de que algo surge com muito mais frequência do que antes aparece sem explicação aparente. Porquê? Como é que um conceito, um objeto ou um acontecimento ganham relevância e importância no quotidiano num piscar de olhos? O que muda? "O que muda não é a realidade em si, mas a nossa atenção à mesma", responde Inês Oliveira Ferreira, psicóloga clínica e coach na Academia Transformar, no Porto. "Não é que haja mais carros daquela marca ou que toda a gente esteja grávida. O que muda é a forma como o nosso cérebro filtra a informação", explica.