Foi vocalista de uma banda de música, gosta que o tratem pelo primeiro nome, cortou feriados e suspendeu obras públicas nos tempos da troika. Regressa a Portugal para liderar o banco central.
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Quando tomou conhecimento do convite do Governo para novo governador do Banco de Portugal (BdP), Álvaro Santos Pereira estava em missão da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) na África do Sul. O telefonema apanhou-o de surpresa. Pediu tempo, falou com a família, organizou a vida com a mulher e os três filhos. A mudança para Lisboa obrigaria a nova logística, depois da saída de Vancouver (Canadá), onde era professor, para a capital portuguesa quando foi ministro da Economia de Pedro Passos Coelho, em 2011, e posteriormente para Paris, com a nomeação para a OCDE, em 2014. Acertadas todas as agulhas, disse definitivamente que sim. E foi anunciado publicamente.
"É um profundo conhecedor da economia portuguesa, da economia internacional e do sistema financeiro", justificou António Leitão Amaro, ministro dos Assuntos Parlamentares. "Uma escolha excelente", considerou o ex-governador do BdP Carlos Costa, à CNN. "Tem um perfil bastante equilibrado para o cargo", elogiou, por sua vez, João Leão, ex-ministro das Finanças de um dos governos de António Costa (PS), ao NOW.
Álvaro Santos Pereira nasceu em Viseu, onde conheceu a liberdade de jogar futebol na rua com os amigos, embalado pelos relatos radiofónicos do seu Sporting. Na adolescência, foi vocalista de uma banda de rock para a qual escrevia as letras das canções.
Apenas deixou a cidade natal quando, aos 18 anos, entrou no curso de Economia da Universidade de Coimbra. A nova realidade abriu-o ao mundo. Nunca deixou de ser bom aluno ao mesmo tempo que participava em sessões de tertúlia com outros estudantes que duravam até madrugada, alimentadas a amendoins e cerveja. No fim do curso, quando surgiu a possibilidade de sair do país ao abrigo do programa Erasmus, escolheu a cosmopolita Londres para expandir conhecimento e deixar Portugal para trás como perspetiva profissional. Desde então, só regressou de visita ou em missões de Estado.
Após a Grã-Bretanha - iniciou a carreira docente em York -, seguiu-se Vancouver, no Canadá, cidade onde completou o doutoramento e também foi professor. Durante a longa permanência em terras estrangeiras que Álvaro Santos Pereira foi perdendo formalismos.
Foi isso mesmo que tentou dizer aos portugueses assim que colocou os pés em Lisboa nas vésperas de tomar posse como ministro da Economia e do Emprego, durante o período de intervenção da troika. "Prefiro que me tratem por Álvaro", pediu a um país habituado a cerimónias de trato, corria o mês de junho de 2011.
Também ficou célebre a sua curta declaração sobre um dos mais genuínos doces portugueses. "Porque não existe um franchising de pastéis de nata? São tão vendáveis como os churrascos Nando"s ou os hambúrgueres", desafiou ao palestrar na conferência "Made in Portugal", organizada pelo "Diário de Notícias" em janeiro de 2012. A ideia passava por sugerir a internacionalização de um produto tipicamente nacional que podia gerar receita externa e, sobretudo, levar o nome do país além-fronteiras. Desde então o nome de Álvaro Santos Pereira ficou daí em diante colado à iguaria, por vezes de forma jocosa, sem que fosse alcançado o apelo do exemplo que pretendeu dar.
"Todas as semanas mandava colar nas paredes dos gabinetes do ministério, nomeadamente nas dos secretários de Estado, pequenos cartazes com frases sobre os próximos objetivos a alcançar", conta à "Notícias Magazine" um ex-colaborador próximo.
"Era muito informal e, ao mesmo tempo, muito direto. Sabia bem a mensagem a passar e como. Nunca o ouvi levantar a voz a ninguém", acrescenta.
Atravessou momentos turbulentos no Governo e tornou-se polémico ao suspender quatro feriados: Corpo de Deus, Dia de Todos os Santos, 1.º de Dezembro e 5 de Outubro. E quando anunciou o fim de obras públicas como o TGV ou o projeto para o novo aeroporto de Lisboa.
Na imprensa, surgiram sinais de choque com os ministros das Finanças, Vítor Gaspar, e dos Negócios Estrangeiros, Paulo Portas. Saiu a meio da legislatura, a 24 de julho de 2013.
Os atritos com colegas do Executivo deixou-os plasmados nas 420 páginas de "Reformar sem medo: um independente no Governo de Portugal", editado pela Gradiva, em 2014. Não foi a sua única aventura literária. Experimentou o romance em "Diário de um deus Criacionista", de 2007.
Álvaro Santos Pereira
Cargo Governador designado do Banco de Portugal
Nascimento 07/01/1972 (53 anos)
Nacionalidade Portuguesa (Viseu)