Votava no PSD e foi jogadora de bridge. Em apenas cinco anos passou de militante de base a presidente da IL. O sorriso permanente e os muitos brincos são imagem de marca.
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Foi ao som da banda Metallica, uma das suas favoritas, que Mariana Leitão subiu ao púlpito da X Convenção da Iniciativa Liberal (IL), que decorreu no passado dia 19, em Alcobaça, para realizar o primeiro discurso oficial como nome máximo do partido. Com nervosismo notado na voz, travado com goles rápidos de água tragados de uma caneca branca de onde sobressaía um enorme coração vermelho vivo, começou rápido por dizer ao que vinha. "O país não vai mudar com remendos", avisou. "O momento das reformas é agora", assinalou. "Respeito é devolver em serviços o que os portugueses pagam em impostos", acrescentou.
Dois dias depois foi recebida em Belém por Marcelo Rebelo de Sousa, que, olhos nos olhos, a definiu como "uma Dama de Ferro com cara de simpática e empática".
"O presidente acertou em cheio. Acho que os políticos devem ser simultaneamente acessíveis e assertivos e é isso que procuro transmitir", refere Mariana Leitão à "Notícias Magazine". Ela que ao vestuário sóbrio promete continuar a juntar os três brincos que desde cedo mantém em cada orelha. "Fiz os furos quando tinha 18 anos como forma de reivindicar as minhas vontades perante a família. Foi a primeira afirmação como liberal", brinca.
Eleita em lista única com 73% dos votos, tornou-se a nova presidente da Comissão Executiva da IL, depois de no início do ano ter sido anunciada candidata à Presidência da República, corrida à qual acabaria por abdicar devido às novas funções. "Desde que se tornou militante que a sua presença se tornou bem notada e que se percebeu onde poderia chegar. A sua chegada a líder do partido só surpreendeu quem não acompanhou a sua evolução interna", constata Paula Almeida, adjunta do Gabinete Parlamentar da IL. "Sabe o que quer fazer e por qual caminho seguir. Sente-se segurança e assertividade nas decisões que toma. É uma líder natural e junta a isso um sentido de humor incrível e um contagiante sorriso permanente", completa.
Mãe de duas meninas, de dez e seis anos, benfiquistas como ela e que de quando em vez leva consigo para o Parlamento, nunca se casou com o pai das filhas, de quem está separada e que considera "um dos melhores amigos". Durante anos, foi jogadora de bridge, jogo de cartas que faz da estratégia e ponderação regra de ouro, e cuja associação nacional em Lisboa chegou a liderar e da federação fazer parte. Afastou-se voluntariamente quando foi conhecido o acórdão interno que a condenou à suspensão de funções por quatro meses por falta de apresentação de relatórios e orçamentos.
Acabou por ser o bridge que, indiretamente, a levou à Iniciativa Liberal. Fez equipa em vários torneios com João Barbosa, membro da IL desde os primórdios e com quem conversava sobre política. Inscreveu-se em 2019. "Não conhecia ninguém do partido quando aderiu. Com muito mérito próprio, fez trabalho de base e foi subindo na hierarquia", sublinha João Barbosa. "É uma pessoa focada e trabalhadora. Já era assim no bridge, levou isso também para a política", compara.
Licenciada em Relações Internacionais e com pós-graduações em Análise de Dados e Gestão Internacional, começou a destacar-se quando foi eleita deputada municipal em Oeiras, onde vive, nas autárquicas de 2021. Ficaram célebres vídeos nas redes sociais e no YouTube que a mostravam a confrontar Isaltino Morais, presidente da Câmara oeirense, com questões polémicas, nomeadamente os preços das refeições que fazia em nome do município. "Adorei. Foram tempos vivos e intensos que me deram traquejo político e, inclusive, ajudaram a saber manter a calma", recorda Mariana Leitão.
Daí até aos órgãos da IL e à projeção nacional foi um pulo rápido. Em 2021 foi eleita presidente do Conselho Nacional. Em 2024, entrou pela primeira vez para o Parlamento e logo para a liderança da bancada liberal. "Domina os assuntos políticos com conhecimento e segurança, sem tibiezas", revela Paula Almeida.
Admite que votava no PSD antes de a IL surgir no panorama político, o que aconteceu apenas em 2017. Trabalhara na empresa Puaça, subsidiária da petrolífera angolana Sonangol, investigada judicialmente por negócios imobiliários suspeitos. As suas funções, assegura, passavam, entre outras matérias, por coordenar a atribuição de bolsas de estudo a jovens estudantes angolanos.
O bridge, esse, é paixão que deixou para trás quando entrou para a política ativa e a que não pensa voltar tão cedo. Do que nunca abdicou foi das tentações gastronómicas. "Adoro comer", confessa. Se for cozido à portuguesa, perfeito para ela.
MARIANA LEITÃO
Cargo Presidente da Comissão Executiva da Iniciativa Liberal
Nascimento 28/09/1982 (42 anos)
Nacionalidade Portuguesa (Lisboa)