
Da guerrilha ao poder, da polémica relação com Trump à investigação militar por um bombardeio que matou menores. Gustavo Petro está debaixo de fogo a apenas alguns meses das eleições colombianas, às quais está impedido de se recandidatar.
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Nascido em Ciénaga de Oro, no departamento de Córdoba, Colômbia, Gustavo Francisco Petro Urrego cresceu numa família humilde. Filho de um professor, começou a vida numa zona rural e, ainda jovem, mudou-se para Zipaquirá, nos arredores de Bogotá, onde cedo enfrentou desigualdades sociais e lutas operárias. Na adolescência, fundou o jornal escolar "Carta al Pueblo" e um centro cultural batizado de Gabriel García Márquez.
Aos 17 anos, juntou-se ao M-19, movimento guerrilheiro marxista, adotando o nome de guerra "Aureliano". Não combateu diretamente, mas destacou-se como organizador urbano e ideólogo, participando em ocupações de terrenos e iniciativas comunitárias. Foi preso por porte ilegal de armas e torturado - uma experiência que o levou a repensar a luta armada. Com a desmobilização do M-19, no final dos anos 1980, optou pela via institucional. Licenciou-se em Economia na Universidad Externado de Bogotá, especializou-se em direitos humanos e desenvolvimento na Universidade Católica de Louvain (Bélgica) e iniciou um doutoramento em Salamanca (Espanha). De volta à Colômbia, tornou-se deputado e senador, conhecido por denunciar vínculos entre elites políticas, paramilitares e narcotráfico.
Em 2011, foi eleito prefeito de Bogotá, introduzindo políticas progressistas em saneamento, mobilidade e urbanismo. Em 2022, venceu as presidenciais como candidato do Pacto Histórico, tornando-se o primeiro presidente de esquerda da era moderna da Colômbia. Contudo, não poderá recandidatar-se em 2026: a Constituição colombiana proíbe qualquer forma de reeleição presidencial desde 2015.
No Governo, Petro tentou reduzir desigualdades, promover energias limpas e transformar a economia dependente dos combustíveis fósseis. Mas o seu mandato ficou marcado por polémicas, incluindo tensões com os Estados Unidos. Este ano, o Departamento do Tesouro norte-americano impôs sanções a Petro, à família e aliados, acusando-os de políticas permissivas que beneficiariam cartéis. Donald Trump chamou-lhe "líder do tráfico ilegal de drogas", colocou-o na chamada "Lista Clinton" e suspendeu ajudas à Colômbia. Na tentativa de provar a integridade, Petro ordenou a publicação das suas despesas financeiras. O documento, um relatório de 31 páginas, originou novas polémicas nos últimos dias: entre os gastos destacaram-se compras em lojas de luxo, bem como uma visita a um clube de striptease em Lisboa que se viu forçado a explicar.
Outro foco de desgaste político tem sido o caso do seu filho mais velho, Nicolás Petro, investigado e acusado por alegado enriquecimento ilícito e lavagem de dinheiro. O Ministério Público sustenta que recebeu fundos de figuras ligadas ao narcotráfico e que parte poderia ter entrado na campanha presidencial de 2022 - algo que Petro sempre negou, mas que abalou a sua imagem pública.
A situação agravou-se com a abertura de uma investigação da Justiça Militar a um bombardeamento ordenado pelas Forças Armadas, que matou sete menores recrutados à força por dissidentes das FARC, no Guaviare. Petro defendeu inicialmente a operação, afirmando que pretendia impedir uma emboscada, mas acabou por reconhecer a "perda dolorosa" e pediu desculpa às famílias. Organismos internacionais, incluindo a ONU, exigiram maior cautela para proteger crianças usadas por grupos armados ilegais, como a fação comandada por Iván Mordisco.
No plano interno, Petro enfrentou dificuldades estruturais para aprovar reformas no Congresso. A sua proposta de reforma da saúde sofreu derrotas sucessivas devido ao colapso da coligação governamental. A reforma laboral e a reforma das pensões também avançaram lentamente. Paralelamente, a política ambiental enfrentou contradições. Apesar do compromisso inicial de reduzir a exploração petrolífera, o Governo acabou por autorizar novos contratos já em curso. Ao mesmo tempo, o processo de paz com o ELN (Ejército de Liberación Nacional, uma das principais guerrilhas da Colômbia) registou avanços intermitentes.
Com as eleições de 2026 a aproximarem-se, Petro enfrenta pressões internas e externas, críticas sobre o uso da força e o impacto das investigações que envolvem o Governo e a sua própria família. O antigo insurgente, que chegou ao poder como símbolo de mudança, atravessa o momento mais delicado do percurso político.
Gustavo Petro
Cargo Presidente da Colômbia
Nascimento 19/04/1960 (65 anos)
Nacionalidade Colombiana (Ciénaga de Oro)
