O objeto escolhido pelo cineasta e escritor
Corpo do artigo
“Em 1982, tinha dez anos de idade, tomei duas decisões muito importantes na minha vida. Inscrever-me na Biblioteca Municipal de Sines, onde podia requisitar os livros que não conseguia comprar, e fui à igreja matriz inscrever-me na catequese, para que, um dia, o padre da vila me fizesse batizar. Era filho de mãe solteira, e ser filho de mãe solteira, naquela altura, não dava os mesmos direitos que os meninos nascidos na santidade do casamento.
Esta imagem acompanha-me desde então. Foi uma oferta da minha avó Maria. É, tirando fotografias de família, o único objeto que me acompanhou e acompanha sempre e já mudei de casa umas 12 vezes ao longo dos meus 53 anos.Atualmente, não tenho uma relação muito próxima com a instituição, mas tenho com esta imagem, que me devolve a infância, a inocência, o sonho, a ingenuidade, o Alentejo, as férias de verão, o perfume da terra, o som das cigarras nas noites de calor, o sabor a torresmos, farófias e o sorriso malandro da minha avó, que acreditava, piamente, que eu tinha nascido para ser santo. Enfim...”