É a personalidade mais jovem de sempre nomeada pela "Time" nestes 92 anos em que a revista norte-americana escolhe a pessoa que teve mais impacto nos 12 meses anteriores. E isso diz tanto sobre o momento quanto sobre ela. A jovem sueca constitui um exemplo a nível mundial, principalmente para os mais jovens, tão carentes de causas que os unam uns aos outros em prol do bem comum
Corpo do artigo
Não é uma figura consensual. Ainda ontem a revista francesa "L"OBS" publicava um artigo com o seguinte título: "É a favor ou contra Thunberg?". No texto, personalidades mundiais dividiam-se em relação a uma rapariga a quem ninguém nega o estatuto de ícone global. No entanto, Greta apresenta-se com traços que contrariam o estereótipo de um tempo vergado às redes sociais, nomeadamente ao Instagram: não é sofisticada, não é sorridente, não é teatral... Mas os jovens seguem-na incondicionalmente, porque aderiram à sua causa: a defesa da nossa casa comum. Trata-se de uma espécie de Pitonisa, uma figura que, na Grécia antiga, passaria mensagens dos deuses para os mortais e isso dava-lhe uma importância incomum por ser uma mulher a dominar no meio dos homens. Greta também pode ser vista assim: pronuncia discursos de adultos num corpo de criança, demonstra uma força rara numa aparência frágil, exibe uma competência invulgar para alguém em formação...
Incarnando uma inversão das hierarquias, Greta Thunberg teve o mérito de mobilizar jovens à escala mundial, demonstrando que hoje há novos tipos de influências que ultrapassam os tradicionais corredores do poder. A força simples e direta como coloca em causa a inação dos políticos mobiliza-nos e isso tem um enorme mérito.
Claro que a rapariga que desarma líderes mundiais não é consensual. Há quem considere que personifica um histerismo pelo clima ou que evidencia uma espécie de inteligência ventríloqua. Não se pode naturalmente afirmar que tudo na jovem sueca é espontâneo. Nas suas aparições públicas, percebe-se que há uma imagem (muito) trabalhada. A fotografia da capa que a "Time" publica esta semana anunciando-a como personalidade do ano foi captada em Lisboa pela conceituada fotógrafa Evgenia Arbugaeva. Greta fez-se conduzir até ao lugar combinado a bordo de um Tesla alugado e certamente que toda essa produção não foi pensada, nem tão-pouco executada por ela.
No entanto, é um facto que, no último ano, a crise climática passou dos bastidores para o centro do palco e ninguém fez tanto para isso acontecer como Greta Thunberg. Por isso, a escolha da "Time" não poderia ter sido outra.
Prof. Associada com Agregação da U. Minho