Na passada sexta-feira vi-me numa situação pela qual, sinceramente, não imaginava passar.
Corpo do artigo
Como é sabido, estava convocada para esse dia, ao final da tarde, a assembleia-geral da Associação dos Amigos do Coliseu do Porto que, entre outras coisas, ia discutir a proposta apresentada pelo Governo, pelo Município do Porto e pela Área Metropolitana do Porto com vista à concessão do Coliseu do Porto. Um conjunto de associados, encabeçados pela Associação Comercial do Porto, tendo em conta o momento que estamos a viver, solicitou o mais do que razoável adiamento da assembleia. Proposta que não foi aceite pela Mesa da Assembleia-Geral.
Pelo que, em representação da AECOD - Associação dos Eleitos Comunistas e Outros Democratas, associada, desde a primeira hora, da associação, participei na assembleia-geral, consciente de que teríamos de ser consequentes e denunciar no sítio certo a nossa oposição a este negócio que vai transformar este património do Porto em mais uma sala de espetáculos meramente comercial.
O ambiente era tétrico. À entrada, uma funcionária do Coliseu de máscara e luvas, informava que, antes de entrarmos, tínhamos de responder a um inquérito: se tínhamos febre (informando logo que não tinha termómetro para o comprovar...) ou outros sintomas do coronavírus, se tínhamos tido contactos com pessoas infetadas, ou passado por Felgueiras ou Lousada ou regressado de Itália ou outros países críticos.
Respondido que não a todos os quesitos, lá entramos para a grande sala do Coliseu, onde estavam talvez duas dezenas de pessoas, incluindo os diversos funcionários que asseguravam o som e transportavam os microfones para os intervenientes. Todos de luvas e máscara, tal como alguns dos presentes.
Propus, de imediato, a suspensão da assembleia, dado o momento que estávamos a viver e que, objetivamente, para além de ser um contrassenso a sua realização naquele instante, punha em causa a representatividade da assembleia, dado que, apesar da importância dos temas em discussão, muitos associados não participavam na mesma por fundados receios. Perante a recusa da Mesa em suspender os trabalhos, requeri que essa suspensão fosse votada pela assembleia - o que aconteceu.
E onde caiu a máscara, com os representantes do Governo, da Câmara Municipal do Porto e da Área Metropolitana do Porto a votarem contra a suspensão! Ou seja, o representante do Governo que, nesse mesmo dia, tinha declarado o estado de alerta e anunciado um conjunto de medidas que incluíam o encerramento de todas as escolas e o representante da Câmara, que também nesse dia tinha anunciado medidas especiais como o encerramento de jardins públicos, praias, espetáculos, parques e de estacionamento, uniam-se para impor a prossecução de uma assembleia-geral que, objetivamente, não tinha nenhum caráter de emergência. Mostrando que o objetivo era, apenas, aproveitar o foco de toda a gente para os problemas do Covid-19 para levar a cabo, sem mais demora e sem mais reação, a "golpada" da concessão do Coliseu...
*Engenheiro