Dizem que a rainha Maria Antonieta, ouvindo os protestos da população francesa que reclamava por pão, terá comentado: "Se não têm pão, comam brioches".
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Esta frase tem-me vindo à cabeça a propósito da indemnização de 500 mil euros pagos pela TAP à ex-secretária de Estado do Tesouro, Alexandra Reis. E a razão é simples: estamos perante uma situação que mostra que, tal como Maria Antonieta (que acabou guilhotinada no decurso da Revolução Francesa), os nossos governantes vivem numa "bolha" completamente a leste do país real.
Podem discutir a questão da legalidade e das responsabilidades políticas. Mas o que está em causa, para além da questão moral, é como se considerou normal a sucessão de factos e o valor em causa. Para ganhar quinhentos mil euros, um trabalhador com o salário mínimo de 2022 em Portugal (e este é o salário de cerca de 900 mil pessoas, ou seja, de um em cada cinco trabalhadores por conta de outrem) teria de trabalhar 51 anos! Mesmo no futebol, que é conhecido pelos rendimentos pornográficos de alguns dos seus atores, pelo que leio, quando um treinador é despedido, a entidade patronal continua a pagar-lhe o salário até arranjar novo emprego. No caso de Alexandra Reis, recebe a indemnização de uma empresa pública e, passados quatro meses, é contratada pelo mesmo "acionista" para outra empresa pública! E, com este percurso, é escolhida para o Governo (o que mostra a leviandade do processo de seleção!).
É sabido que as maiorias absolutas tendem a transformar os governantes em autistas. Que passam a considerar o povo uma chatice que perturba a "bolha" cor de rosa que, com a sua entourage, constroem e na qual vivem. A surpresa é um tão elevado nível de autismo em apenas nove meses de maioria absoluta......
*Deputado municipal