Parecem irreais as imagens que nos chegam a casa. Diretos com o rio em pano de fundo, cerimónias carregadas de protocolo e simbolismo: os líderes europeus vieram ao Porto.
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Chegaram ao belíssimo edifício da Alfândega, e cada um, perante o microfone que lhe colocaram frente, disse palavras à altura da circunstância. Andaram de trás para a frente em jantares e almoços oficiais, e no final anunciaram ter feito história. Não convenceram, no entanto. Para a história deste encontro do Porto, talvez fique uma linha numa fastidiosa cronologia. Quantos discursos já ouvimos no final de outros encontros, noutras geografias europeias? Tantos. E essa talvez seja uma das fraquezas da Europa, o discurso descolado da vida das pessoas.
Em paralelo, éramos confrontados com imagens bem mais reais, essas sim constarão dos compêndios da história social, ao revelarem as marcas de um tempo em que na Europa dita civilizada pessoas viviam praticamente em escravatura. Um recuo ao passado, gente refém dos negreiros dos tempos modernos, a trabalhar em troca de comida e de um teto, em busca de uma quimera. A dado passo, surge um homem, que por acaso é presidente da Ordem dos Advogados, a denunciar uma ameaça aos direitos humanos. Alto, afinal estes imigrantes, praticamente escravizados, têm quem os defenda. Puro engano. Na perspetiva do representante dos advogados portugueses, as vítimas são meia dúzia de proprietários de uns bungalows, num empreendimento de legalidade duvidosa, que não querem ser contaminados por asiáticos em quarentena devido à covid-19.
Por onde andou esta Europa 40 anos depois de Mitterrand ter instituído a reforma aos 60 anos, a quinta semana de férias pagas, aumento substancial dos subsídios de solidariedade (velhice, invalidez, desemprego), a diminuição do tempo de trabalho, entre outras medidas? E classificam os atuais líderes europeus de momento histórico uma mera declaração de intenções.
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