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Portugal parece tê-lo esquecido, como esquece tantos outros. Luís Vaz de Camões nasceu há 500 anos e ninguém o quer evocar. Porque a data clama por comemoração séria. Há tanto para resgatar da sua obra. Não só a épica que aprendemos estrofe por estrofe nos bancos da escola e ajudou a criar a imagem de povo heroico, único na Europa e no Mundo. Sim, sabemos, apropriaram-se do poeta para enaltecer interesses patrióticos do repressivo Estado Novo. E que culpa terá o autor de “Os Lusíadas” dessa vil apropriação?
Explicará esse facto o silenciamento dos 500 anos do seu nascimento? Numa recente noite primaveril, que a tempestade Nelson fez esquecer, dei comigo a assistir a uma peça de teatro na Póvoa de Varzim. Belo espetáculo. Uma pequena companhia local faz aquilo que o Ministério da Cultura teria obrigação de pôr em prática, em larga escala. Levar Camões às pessoas, mostrar a obra, a vida do grande poeta do amor caído na miséria. Ao longo de pouco mais de 60 minutos, sozinho em palco, Eduardo Faria, da Companhia Certa de Varazim Teatro, dando corpo à personagem, tentou responder à pergunta: “quem foi, afinal, Camões?”
E que faz o Governo português? Nada ou muito pouco. Depois de, em maio de 2021, ter decidido comemorar os 500 anos do nascimento do poeta e, entretanto, ter sido nomeada Rita Marnoto, da Universidade de Coimbra, para comissariar as comemorações, chegados ao final de 2023 foi a própria docente a denunciar nada ter sido feito. Desde a sua nomeação, nenhuma das estruturas previstas foi criada. Soaram os alarmes e tentou-se remediar. Está prometido que as comemorações decorrerão, durante um ano, a partir de 10 de junho.
Dêmos o benefício da dúvida e esperemos para ver que consideração merece aquele que todos, mesmo sem nunca o terem lido, consideram o esplendor da poesia portuguesa.